Um estudo publicado no JAMA Network Open em 19 de janeiro de 2024, investigou os efeitos tardios da toxicidade cardíaca associados aos protocolos de tratamento para o linfoma de Hodgkin (LH) em crianças, revelando insights importantes sobre as consequências potenciais de mudanças individuais nos protocolos de tratamento do LH. Este estudo é o primeiro a fornecer estimativas quantitativas dos efeitos tardios da toxicidade cardíaca decorrentes de modificações nos protocolos de tratamento, oferecendo uma visão sobre o equilíbrio entre a redução da intensidade do tratamento e o risco de recidiva.
⏹️ Para entender melhor os riscos associados a doenças cardíacas de grau 3 a 5 entre sobreviventes de Linfoma de Hodgkin, apresentamos a seguir a tabela baseada nos modelos de Fine e Gray, aplicados à coorte de sobreviventes de câncer infantil do estudo Childhood Cancer Survivor Study:
Fonte:
Lo AC, Liu A, Liu Q, et al., 2024
A pesquisa destacou que os esforços substanciais para diminuir os efeitos tóxicos tardios da radioterapia (RT) foram compensados pelo aumento das doses de antraciclinas em alguns casos, em resposta a análises de ensaios clínicos que sugeriram uma sobrevida livre de eventos inadequada com regimes menos intensivos. No entanto, o estudo sugere que as modificações mais recentes nos protocolos, incluindo a redução da RT e o aumento do uso de dexrazoxano, um cardioprotetor, podem reduzir o risco de morbidade cardíaca grave a longo prazo em menos de 2% acima da taxa esperada em uma população não tratada.
📊 A seguir, apresentamos o gráfico que mostra a incidência cumulativa estimada de doenças cardíacas de grau 3 a 5 em quatro ensaios clínicos do Grupo de Oncologia Pediátrica focados em Linfoma de Hodgkin, oferecendo insights sobre os efeitos a longo prazo dos tratamentos utilizados:
Fonte:
Lo AC, Liu A, Liu Q, et al., 2024
O papel do dexrazoxano como uma intervenção para reduzir a morbidade cardíaca tardia é particularmente notável. Este agente, que atua como um inibidor da topoisomerase II e quelante de ferro, mostrou-se eficaz na redução dos efeitos tóxicos cardíacos induzidos por antraciclinas, com uma meta-análise apontando para uma redução significativa nos efeitos tóxicos cardíacos clínicos entre estudos não randomizados.
Além disso, o estudo observou uma associação significativa entre o uso de dexrazoxano e a diminuição de desfechos cardiovasculares graves em sobreviventes de câncer infantil, sugerindo que aumentar seu uso poderia oferecer proteção cardíaca semelhante à de reduzir a dose cumulativa de doxorrubicina.
A pesquisa também aborda a importância de adaptar as diretrizes de acompanhamento a longo prazo para sobreviventes de câncer infantil, visando alinhar melhor a frequência de exames de ecocardiografia com o risco associado ao tratamento recebido. Isso poderia ajudar a evitar a sobremedicalização e melhorar a qualidade de vida dos sobreviventes, minimizando ansiedade e interrupções em suas rotinas diárias.
📊 No gráfico, observamos a associação entre a modificação dos componentes individuais do tratamento e a incidência cumulativa de doenças cardíacas no ensaio AHOD0031, apresentando uma análise detalhada dos impactos dessas mudanças no desfecho cardíaco dos participantes:
Fonte:
Lo AC, Liu A, Liu Q, et al., 2024
⏹️ Já o próximo gráfico, os resultados estimados de modificações no protocolo S1826 com o objetivo de reduzir ainda mais os efeitos cardíacos tardios, proporcionando uma visão quantitativa das potenciais melhorias na saúde cardíaca dos pacientes:
Fonte:
Lo AC, Liu A, Liu Q, et al., 2024
No entanto, o estudo reconhece limitações, incluindo a natureza exploratória da aplicação do modelo dos Sobreviventes de Câncer Infantil (Childhood Cancer Survivor Study - CCSS) a pacientes do Grupo de Oncologia Pediátrica (Children's Oncology Group - COG) e a necessidade de considerar a história familiar de risco cardíaco herdado, além das limitações dos dados auto-relatados sobre desfechos cardíacos. A pesquisa também destaca a necessidade de mais estudos sobre dexrazoxano para confirmar sua eficácia a longo prazo na redução dos efeitos tóxicos cardíacos.
Em conclusão, este estudo sugere que as evoluções nos protocolos de tratamento para o linfoma de Hodgkin em crianças, particularmente a redução do uso de RT, a otimização dos volumes-alvo da RT e o aumento do uso de dexrazoxano, têm o potencial de reduzir significativamente o risco de doença cardíaca tardia. Estes achados são cruciais para orientar futuras decisões de tratamento e melhorar o cuidado de sobreviventes de câncer infantil, reforçando a necessidade de pesquisas adicionais para validar estas intervenções e otimizar ainda mais as estratégias de tratamento e acompanhamento.
Referência:
Lo AC, Liu A, Liu Q, et al. Late Cardiac Toxic Effects Associated With Treatment Protocols for Hodgkin Lymphoma in Children. JAMA Netw Open. 2024;7(1):e2351062. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.51062