Em tempos de incertezas sobre medicações em relação à COVID-19, é muito importante que lembremos de dois tipos de farmacodermias: Necrólise epidérmica tóxica e Síndrome de Stevens Johnson. Mas o que são essas reações?
As farmacodermias são reações de hipersensibilidade a medicações (maioria dos casos), mas podem advir também de vacinas, síndrome do enxerto vs hospedeiro, infecções, e outras.
Em meados dos anos 90, Stevens e Johnson descreveram dois pacientes que possuíam lesões cutâneas generalizadas, com certos pródromos: febre, mal estar e conjuntivite purulenta grave.
Essas lesões cutâneas ficaram descritas como eritemas multiformes, visto que haviam pápulas e máculas, onde o nome de ambos os pesquisadores ficou representado como epônimo desta lesão Eritematosa multiforme, mas que futuramente foi proposta uma divisão desta entidade clínica em: lesões de Stevens Johnson(SJJ) e Necrólise Epidérmica Tóxica.
A SJJ e a NET são reações cutâneas graves em resposta à drogas (na maioria dos casos), com formações que acometem pele e mucosas, de padrões mistos, sendo eles: exantemas difusos, lesões em alvo, acometimento ocular e genital. Essas reações de hipersensibilidade são do tipo tardia, onde componentes do sistema complemento e anticorpos IgG se depositam na derme e em algumas de suas estruturas perivasculares.
Os principais agentes etiológicos são :
- Medicações : Sulfadiazina, sulfametoxazol- trimetoprim, fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, alopurinol, penicilinas, sulfassalazina, fenilbutazona, lamotrigina
- Agentes Virais: vírus herpes simples, vírus da imunodeficiência humana, coxsackie vírus , influenza, hepatite, varíola, enterovírus, EBV
- Bactérias: Estreptococcos beta hemolítico do grupo A (Pyogenes), micobacterias, Brucelose, micobacterias, micoplasma, tularemia, febre tifoide (carrapato estrela)
- Fungos: Paracoccidioidomicose, dermatofitoses e histoplasma
- Protozoários: malária e tricomonas
- Tumores: carcinomas e linfomas
Engraçado né? Basicamente tudo que está em nossa volta pode levar a essas reações de hipersensibilidade.
A clínica dos pacientes é baseada em eritemas cutâneos variados, desde pápulas, vesículas, bolhas, urticárias e no centro dessas lesões podem ter vesículas, púrpuras ou necrose.
Com esse centro típico, há uma lesão patognomônica chamada de “Lesão em Alvo”. Na SSJ as lesões se concentram mais na face, tórax e pescoço. Já na NET, as lesões podem ser difusas, acometendo até mucosas (enantemas).
Ambas podem vir com pródromos como já foi dito, sendo eles: febre, hipotensão postural (alta resposta vascular), taquicardia, alteração de nível de consciência, ulceração na córnea/conjuntivite, vulvovaginite/balanite, epistaxe e coma.
Não há testes laboratoriais que possam diagnosticar, mas sim uma história bem colhida, com a avaliação dos fármacos em uso, história vacinal, contato com patógenos, infecções prévias e antecedentes pessoais clínicos.
O tratamento se baseia no suporte do paciente, com reconhecimento precoce se foi causada por um fármaco e a retirada do mesmo, devendo ser tratado com sintomáticos: hidratação, reposição de eletrólitos, avaliar vias aéreas, controlar temperatura e quaisquer outras medidas de suporte...
Ai você pode se perguntar, mas se não tem diagnóstico laboratorial como eu irei diagnosticar se é Necrólise ou Sindrome de Stevens Johnson? Avaliamos a área acometida, algumas literaturas falam que quando a área acometida for menor que 15% consideramos SSJ, áreas maiores que 30% consideramos NET, e entre os valores, considerar sobreposição das doenças, além de avaliar os locais de acometimento.
Em tempos de pandemia, quando não sabemos o que realmente é benéfico ao paciente, coloque na “balança” o custo benefício de administração de qualquer droga, pois não são só essas doenças que podem levar o indivíduo a danos orgânicos e até mesmo ao óbito.
Fonte: https://www.scielo.br/pdf/rbti/v18n3/v18n3a12.pdf
http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-52102014000300010