O manejo da insuficiência respiratória aguda em ambientes de emergência continua a ser um desafio significativo para os profissionais de saúde. Uma recente publicação em JAMA aborda esta questão, apresentando resultados do ensaio clínico RENOVATE, que comparou a eficácia do oxigênio de alto fluxo nasal (HFNO) com a ventilação não invasiva (VNI) em pacientes com diferentes etiologias de insuficiência respiratória aguda, incluindo uma coorte específica de pacientes com COVID-19.
Este estudo multicêntrico, adaptativo e randomizado investigou se o oxigênio de alto fluxo nasal poderia ser considerado não inferior à ventilação não invasiva para prevenir a intubação endotraqueal ou morte dentro de sete dias. O ensaio incluiu grupos de pacientes com falência respiratória hipoxêmica aguda, exacerbações da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência cardíaca aguda e COVID-19.
Principais Descobertas:
- Não Inferioridade do oxigênio de alto fluxo nasal: O estudo concluiu não ser inferior à ventilação não invasiva para o desfecho primário composto de morte ou intubação endotraqueal em sete dias, especialmente em pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda e COVID-19.
- Cautela na Interpretação para DPOC e Insuficiência Cardíaca: Os resultados sugerem uma abordagem mais cautelosa ao interpretar a eficácia do oxigênio de alto fluxo nasal em grupos com tamanhos de amostra menores, como pacientes com DPOC e insuficiência cardíaca aguda, onde sua eficácia permanece incerta, particularmente em pacientes com hipercapnia.
- Considerações sobre a Margem de Não Inferioridade: A margem de não inferioridade escolhida (uma diferença absoluta de 10%) levanta questões sobre a tolerância ao risco para desfechos tão significativos quanto a intubação endotraqueal ou morte.
Implicações para a Prática Clínica:
A utilização do oxigênio de alto fluxo nasal oferece vantagens como maior conforto para o paciente, facilitação da comunicação e mobilidade. No entanto, sua aplicação exige consideração cuidadosa das demandas de recursos e da complexidade dos procedimentos em ambientes de emergência. A implementação do oxigênio de alto fluxo nasal pode necessitar do envolvimento de especialistas para configuração e monitoramento, o que adiciona uma consideração adicional em comparação à ventilação não invasiva , uma opção mais familiar e acessível.
O ensaio RENOVATE fornece evidências sobre a comparabilidade do oxigênio de alto fluxo nasal com a ventilação não invasiva em diversas etiologias de insuficiência respiratória aguda. Contudo, as limitações relacionadas à heterogeneidade dos pacientes, à ampla margem de não inferioridade e à escassez de dados sobre desfechos secundários sugerem que essas descobertas devem ser consideradas com cautela antes de provocar uma mudança generalizada na prática clínica.
A inclusão de desfechos centrados no paciente em futuros estudos será essencial para determinar se o oxigênio de alto fluxo nasal pode oferecer um benefício verdadeiro além da não inferioridade em resultados clínicos.
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Referência:
Freund Y, Vromant A. Reevaluating Respiratory Support in Acute Respiratory Failure—Insights From the RENOVATE Trial and Implications for Practice. JAMA. Published online December 10, 2024. doi:10.1001/jama.2024.25869