Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego fizeram novas descobertas sobre as alterações metabólicas que ocorrem desde o nascimento até o surgimento dos primeiros sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este estudo, divulgado em Science Daily, em 10 de maio de 2024 revelou que um número limitado de vias bioquímicas é responsável pela maioria dessas mudanças, abrindo novas possibilidades para a detecção e prevenção precoces do autismo.
O Dr. Robert Naviaux, professor nos Departamentos de Medicina, Pediatria e Patologia, liderou a pesquisa e explicou que, ao nascer, não há diferenças visíveis entre crianças que desenvolverão autismo e aquelas que não. "Estamos começando a entender as dinâmicas que regulam a transição do risco à manifestação dos primeiros sintomas de TEA. O diagnóstico precoce permite a intervenção precoce e resultados mais otimizados," destacou Naviaux.
O TEA é um distúrbio desenvolvimentista caracterizado por dificuldades de socialização e comunicação, além de comportamentos repetitivos e/ou restritivos. Embora o autismo seja conhecido por ter fortes fatores de risco genéticos, fatores ambientais também desempenham um papel crucial no desenvolvimento e na gravidade do TEA. A equipe de Naviaux está descobrindo que o desenvolvimento do autismo é governado pela interação em tempo real desses fatores variados. Ao estudar a biologia do desenvolvimento do metabolismo e como ele difere no autismo, novas percepções estão surgindo em relação ao TEA e outros distúrbios desenvolvimentais complexos.
Para explorar as mudanças metabólicas precoces em crianças com autismo, os pesquisadores estudaram dois grupos de crianças: um grupo de recém-nascidos, nos quais o autismo ainda não pode ser detectado, e um segundo grupo de crianças de cinco anos, algumas das quais já diagnosticadas com autismo. Ao comparar os perfis metabólicos das crianças que foram eventualmente diagnosticadas com autismo com aqueles que se desenvolveram de forma neurotípica, eles encontraram diferenças marcantes. Das 50 diferentes vias bioquímicas investigadas, apenas 14 foram responsáveis por 80% do impacto metabólico do autismo.
As vias mais alteradas estão relacionadas à resposta ao perigo celular, uma reação celular natural e universal a lesões ou estresse metabólico. O corpo possui salvaguardas bioquímicas que podem desativar a resposta ao perigo celular uma vez que a ameaça tenha passado. Naviaux hipotetiza que o autismo ocorre quando essas salvaguardas falham em se desenvolver normalmente, resultando em uma sensibilidade aumentada a estímulos ambientais, contribuindo para sensibilidades sensoriais e outros sintomas associados ao autismo.
"O metabolismo é a linguagem que o cérebro, o intestino e o sistema imunológico usam para se comunicar, e o autismo ocorre quando a comunicação entre esses sistemas é alterada," acrescentou Naviaux. O controle da resposta ao perigo celular é regulado principalmente pelo adenosina trifosfato (ATP), a moeda de energia química do corpo. Embora essas vias de sinalização de ATP não se desenvolvam normalmente no autismo, elas podem ser parcialmente restauráveis com medicamentos farmacêuticos existentes.
Em 2017, Naviaux e sua equipe concluíram os testes clínicos iniciais para a suramina, o único medicamento aprovado em humanos que pode alvoar a sinalização de ATP e que é normalmente usado para tratar a doença do sono africana. A pesquisa agora espera que, ao revelar as vias específicas relacionadas ao ATP alteradas no autismo, seu trabalho ajudará os cientistas a desenvolver mais medicamentos que alvoem essas vias para gerenciar os sintomas do TEA.
"Suramina é apenas um medicamento que alvoa a resposta ao perigo celular," disse ele. "Agora que estamos examinando de perto como o metabolismo muda no TEA, podemos estar no início de uma renascença farmacológica que criará novas opções de tratamento que nunca existiram antes." Este avanço representa um marco significativo na busca por estratégias mais eficazes para lidar com o autismo desde os estágios iniciais da vida.
Se você deseja aprofundar o seu conhecimento nas descobertas desta estudo, disponibilizamos aqui o link de acesso a pesquisa na íntegra!
Referência:
University of California - San Diego. "Metabolism of autism reveals developmental origins." ScienceDaily. ScienceDaily, 10 May 2024. <www.sciencedaily.com/releases/2024/05/240510111412.htm>.