Um estudo populacional conduzido por pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, trouxe atualizações sobre os impactos da esteatose hepática associada à disfunção metabólica (MASLD) em mulheres grávidas. Publicada no periódico eClinicalMedicine, a pesquisa identificou um risco três vezes maior de parto prematuro entre gestantes com o diagnóstico - risco este que se mantém mesmo quando se controlam fatores como obesidade.
A esteatose hepática, anteriormente conhecida como Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (NAFLD), afeta cerca de 20% da população sueca e pode alcançar até 30% da população mundial, com crescimento preocupante entre mulheres em idade reprodutiva. Entre os fatores de risco estão diabetes tipo 2, sobrepeso e obesidade, caracterizando um cenário de disfunção metabólica cada vez mais prevalente.
Análise de base populacional
A análise utilizou dados de registros nacionais suecos e incluiu 240 gestações com diagnóstico de esteatose hepática associada à disfunção metabólica, comparadas a 1.140 gestações de mulheres sem a condição, com características semelhantes.
Os resultados mostraram que:
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Mulheres com o diagnóstico apresentaram um risco 3 vezes maior de parto prematuro (antes de 37 semanas);
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O risco independe da gravidade, sugerindo que até mesmo formas menos avançadas da doença podem afetar negativamente os desfechos gestacionais;
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A associação permaneceu significativa mesmo após o controle para obesidade, indicando que os efeitos adversos não são apenas atribuíveis ao índice de massa corporal elevado.
“Acreditamos que esses achados indicam um papel direto da doença hepática na gestação. O fígado, como órgão central no metabolismo, pode impactar diretamente o ambiente intrauterino”, afirma a pesquisadora Carole A. Marxer, autora principal do estudo e pós-doutoranda do Departamento de Epidemiologia Médica e Bioestatística do Karolinska Institutet.
O estudo também identificou que:
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Mulheres com o diagnóstico têm 63% mais risco de parto cesáreo, mas esse aumento parece ser explicado pelo alto IMC, não pela doença hepática em si.
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Não houve aumento do risco de malformações congênitas ou óbitos neonatais entre os bebês de mães com a esteatóse hepática.
Esses dados indicam que, embora a condição aumente o risco de parto prematuro e cesariana, não há evidência de impacto direto sobre a saúde fetal estrutural ou mortalidade imediata.
Diante dos resultados, os autores defendem que:
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Gestantes com esteatóse hepática devem ser monitoradas de forma mais próxima e cuidadosa ao longo da gestação;
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As diretrizes clínicas de manejo da condição devem considerar recomendações específicas para mulheres grávidas;
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A triagem de doenças metabólicas e hepáticas em mulheres em idade fértil pode ter papel preventivo em obstetrícia.
“Nosso estudo sugere a necessidade de incorporar o acompanhamento da função hepática e do metabolismo nas rotinas de pré-natal, especialmente entre mulheres com fatores de risco metabólicos”, reforça o coautor sênior Jonas F. Ludvigsson, pediatra e professor do Karolinska Institutet.
Referência:
Karolinska Institutet. "Fatty liver in pregnancy may increase risk of preterm birth." ScienceDaily. ScienceDaily, 9 May 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/05/250509122119.htm>.