Acompanhar uma consulta é diversão garantida para todo estudante de Medicina. E por esses dias fui acompanhar a consulta de uma pessoa para a qual eu havia indicado um especialista em vias aéreas superiores. Um caso de rinite alérgica que há tempos vem acompanhada de outros quadros inflamatórios. Na faculdade estou em Fisiopatologia e Imunologia 2, tudo a ver com a consulta.
Entramos em consulta, o médico – engessado em seu próprio conhecimento, aquele que sempre aferi que o paciente é um eterno leigo – começa a anamnese pulando as informações relacionadas ao nível intelectual do paciente. Quem está à frente daquele profissional? Ele não sabe. Continua a entrevista que gira em torno de uma parte do que é importante, onde entope, se sente cheiros, como respira. Após alguns minutos prossegue ao exame físico. Conclui silenciosamente e, após gastar alguns minutos em suas anotações, passa uma série de receitas e exames. O paciente ao meu lado, frustrado. Nesse momento faço alguns questionamentos, ele responde. Não sabe que sou estudante de Medicina, mas provavelmente deve ter se surpreendido com a esperteza de um "leigo". Afinal, só existem leigos fora dos campos da Medicina. Certo? Não.
Os pacientes devem ser informados tecnicamente. E é para isso que na anamnese perguntamos sobre o grau de instrução. É nesse momento que medimos até onde podemos ir. Ao meu lado estava um paciente que entendia todos os termos sofisticados do meio médico. Explicar em detalhes é dar segurança ao paciente quanto ao caminho escolhido a fim de se chegar a uma possível solução e passar confiança de que o médico à sua frente é um profissional capacitado.
Em tempos de "Dr. Google" qualquer um chega a um consultório com um conhecimento prévio – que pode ser até errôneo –, mas mesmo assim cabe ao médico elucidar todas as dúvidas.
Tenho um orgulho enorme, infinito de estar em Medicina. Sinto-me uma privilegiada. Uma parte dessa satisfação vem do fato de eu poder fazer a aproximação entre o mundo das moléculas e suas infinitas vias as pessoas ao meu redor. E tentar explicar, mesmo de forma concreta um universo tão subjetivo. Fazê-las entender que não somos deuses, mas tentaremos ajudá-las.
Ao contrário, nosso conhecimento ainda é limitado e nossa função é muitas vezes lutar contra a evolução das espécies. Impedir que alguém seja negativamente selecionado. Somos guerreiros. E jamais, mesmo portando as armas do conhecimento, podemos negar conhecimento às pessoas.
Todo médico deve desenvolver a capacidade de decodificar a linguagem científica a seus pacientes.