“ A maneira mais rápida e efetiva de um médico se livrar de um determinado paciente e mascarar sua incompetência é elegantemente solicitar um (qualquer) exame complementar ou impor-lhe rapidamente uma receita na mão.”
(Lysandro Santos Lima)
O médico deve ter sempre em mente que nenhum resultado laboratorial deve substituir um exame clínico completo, nem contrariar um raciocínio médico correto.
É pertinente e importante a discussão crítica sobre o tema da solicitação exagerada e sem critérios de exames complementares nos hospitais e ambulatórios e o impacto sobre a economia do sistema de saúde do País.
Escreveu o professor Jesus Camargo da UFRGS:
“As nossas escolas de Medicina tem reconhecidamente aumentado o aporte de conhecimentos técnicos aos seus graduandos e residentes, mas, lamentavelmente, se omitido na missão indispensável e intransferível de ensinar a arte de ser médico”.
Os hospitais universitários cercam-se do tecnicismo e os diagnósticos têm sido mais corretos. Mas será que houve em contrapartida uma análise crítica e justificável para esse volume exacerbado de pedidos de exames de rotina e de imagem que são feitos?
O pedido de ultrasom, TC e RNM , substituindo a anamnese, o exame físico completo, o exame ginecológico e o toque retal. Em um paciente com apendicite aguda não haveria necessidade de se pedir um hemograma ou, mais absurdamente, uma ecografia. Ou ainda, solicitar um tempo de atividade de protrombina para se fazer a anestesia, sem uma indicação muito precisa.
Os usuários dos planos de saúde e de alguns hospitais são motivados pela propaganda, que só valoriza os exames mais sofisticados e de vanguarda e não pelos profissionais mais competentes com mais tempo, ética e humanismo para examinar os seus doentes. Este tecnicismo dos tempos atuais deveria ser usado com muito critério sob pena de acontecer o que se passa com o custo da saúde nos Estados Unidos, que destina mais de 3.000 dólares/ano/habitante e que teve de reformular o seu sistema de saúde devido ao abuso de tecnologia e do seu alto custo.
O médico não pode se transformar em “gigolô” da máquina! E a máquina não pode ser valorizada mais que o médico. As sociedades de especialidades e vários hospitais universitários já estabeleceram diretrizes e protocolos, definindo os exames e procedimentos realmente necessários para cada doença, tornando ótimo os seus custos.
Estas sociedades e hospitais avaliariam o impacto de cada novo procedimento ou avanço tecnológico, definindo a relação custo-benefício e advertindo os maus profissionais que praticam abuso perante o SUS e os planos de saúde.
O pedido de exames complementares faz a fila do serviço do SUS e de convênios andar mais rápido. E a formação inadequada do médico faz com que ela peça uma quantidade exagerada de exames pelo uso de "medicina defensiva" para se proteger de um possível erro médico, por falta de preparo e de confiança em si, por pressa ou para atender um número maior de pacientes para compensar a desvalorização da consulta.
Muitos exames complementares são solicitados sem critério, de modo inadequado e indiscriminado, não atendendo ao princípio fundamental que é o de esclarecer o diagnóstico. Isto tem se agravado pelo aparecimento de novos e fascinantes métodos diagnósticos que encantam os médicos novos gerando a falsa sensação de estarem praticando uma medicina moderna, eficiente e segura, quando, na realidade, trata-se de uma medicina desvirtuada, sem lógica e sem respeito ao paciente.
Dr. Maksoud sensível cirurgião pediátrico acrescentou que uma maneira sensata de se verificar a validade e adequação de exames é tratar de responder às seguintes indagações, que servem como instrumento verdadeiro de autocontrole:
Este exame é realmente indispensável? Este exame exprime efetivamente o que se pretende investigar? O exame é importante para o diagnóstico, prognóstico, estadiamento e estabelecer ou alterar determinada conduta? O exame irá mostrar algum dado que já conheço ou que não possa ser esclarecido por um exame menos invasivo, mais simples ou pelo exame físico?
E eu acrescentaria: você pediria este exame para seu paciente particular, para sua mãe, seu pai, sua irmã ou seu filho? Assim, acredito que a maioria das vezes, os exames são solicitados por insegurança, facilidade, modismo, sociopatia, por querer agradar o paciente, ou porque é o SUS, o hospital ou o plano de saúde que vai pagar a conta.
João Carlos Simões
Editor Científico da Revista do Médico Residente
Veja nesta apresentação quais são os exames que são aceitos como adequados no pré-operatório:
Exames de rotina no pré-operatório on Prezi