A crescente popularidade de medicamentos contra obesidade como a semaglutida, comercializados sob os nomes Ozempic e WeGovy pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk, marca uma nova era na luta contra o excesso de peso.
Com aproximadamente 1,7% da população dos Estados Unidos prescrita com medicação à base de semaglutida em 2023, a demanda global por essas drogas injetáveis, que prometem prevenir e tratar o diabetes e outras condições crônicas associadas à obesidade, está em ascensão. No entanto, além dos benefícios médicos, a perda de peso induzida por medicamentos carrega consigo um custo social considerável que merece uma análise aprofundada.
A obesidade, definida por um Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30, é uma condição que afeta aproximadamente 770 milhões de adultos globalmente, com projeções indicando um aumento para mais de um bilhão até 2030. Apesar dos avanços médicos, a perda de peso não é apenas um fenômeno clínico; é também uma experiência social, repleta de desafios emocionais e julgamentos sociais.
Historicamente, a cirurgia bariátrica ofereceu insights sobre as complexidades da perda de peso. Entre 2013 e 2016, pesquisas com pessoas que se submeteram a essas cirurgias nos Estados Unidos revelaram que, apesar dos benefícios para a saúde e do aumento da autoconfiança, muitos enfrentaram efeitos colaterais físicos indesejados e julgamentos severos por optarem por uma solução "cirúrgica" ao invés de métodos tradicionais de dieta e exercício. Essa estigmatização pode ter implicações profundas para o bem-estar e a saúde mental dos indivíduos.
Assim como a cirurgia bariátrica, espera-se que os medicamentos para perda de peso enfrentem percepções sociais semelhantes. O uso dessas drogas, especialmente fora do contexto prescrito ou através do mercado ilegal, traz preocupações sobre consequências adversas desnecessárias e julgamentos sociais. A associação de um corpo mais magro com um status social mais elevado, e a crença cultural de que a perda de peso deve ser alcançada por meio de controle dietético e exercícios, contribuem para a estigmatização daqueles que buscam intervenções médicas para emagrecer.
O artigo destaca a necessidade de uma discussão realista sobre as desvantagens sociais da perda de peso substancial através do uso de drogas, considerando as experiências em torno da cirurgia bariátrica. É essencial que as empresas farmacêuticas, clínicos e pesquisadores considerem os aspectos emocionais na tomada de decisões sobre drogas anti-obesidade, promovendo uma abordagem que evite retratar a perda de peso como uma solução fácil e destaque os efeitos colaterais físicos da perda de peso rápida.
Além disso, é crucial oferecer suporte adequado às pessoas que optam por medicamentos para perda de peso, semelhante aos programas de apoio disponíveis para pacientes de cirurgia bariátrica. Programas educacionais de qualidade e grupos de apoio, sejam presenciais ou online, podem fornecer um espaço para discussão e afirmação, ajudando a lidar com o feedback negativo e o julgamento.
Em resumo, enquanto os medicamentos contra obesidade representam um avanço promissor na prevenção e tratamento de condições crônicas associadas à obesidade, é imperativo abordar o custo social e emocional que acompanha a perda de peso medicamentosa. A aceitação e o apoio social são fundamentais para garantir que os milhões de pessoas que recorrerão a essas drogas nos próximos anos experimentem não apenas benefícios físicos, mas também um ambiente social que promova o bem-estar emocional e a saúde mental.
Referência:
Brewis, A., & Trainer, S. (2024, February 6). No ‘easy’ weight loss: don’t overlook the social cost of anti-obesity drugs. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00329-9