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Faculdades de Medicina ou Escolas de Gladiadores?

Faculdades de Medicina ou Escolas de Gladiadores?
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set. 27 - 5 min de leitura
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Faculdades de Medicina ou Escolas de Gladiadores? Com a palavra Espártaco.

*por Jose Eduardo Carvalho Teixeira

Quarta-feira, 23 de Setembro de 2015, ligo minha televisão por volta das 7:00 para ouvir as notícias diárias transmitidas no jornal matutino enquanto preparo meu café, já que como a maioria dos estudantes de medicina do país resido em outra cidade, diferente da qual nasci e fui criado. Fatos ordinários até então, até que um episódio sui generis me ocorreu. Ouvi o apresentador do noticiário falando sobre o estado caótico do Hospital de Base no Distrito Federal e em um fugaz movimento fui para sala a fim de ouvir mais uma notícia. Tolice! Mal sabia eu que essa manhã seria lembrada pelo resto da minha vida...

Assentei às pressas no sofá enquanto assistia comentários cotidianos sobre a saúde brasileira “faltam médicos, dinheiro, material e...”; até então nada diferente, todavia, as imagens que se seguiram foram um tanto perturbadoras. Um professor – dê-me licença, mas chamo a todos os médicos e profissionais da saúde que me ensinam de professores, pois na minha opinião não há título maior -, provavelmente o cirurgião geral responsável pelo pronto socorro, figurava em meio uma discussão com um soldado do corpo de bombeiros e outro médico socorrista. O bombeiro acabara de lhe dar voz de prisão por “ desacato “, quando esse ilustre indivíduo deferiu as seguintes palavras – “ não posso, não posso porque meus filhos estão em casa me esperando. Eu tô trabalhando. Cara, eu tô trabalhando, eu tô estressado aqui. Tá faltando tudo. Tá faltando tudo. Eu quero sumir daqui...” -. Eu poderia parar o texto por aqui e simplesmente copiar e colar o link para o vídeo. Mas como estudante da nobre ciência médica me vejo na obrigação de expressar alguns sentimentos que me ocorreram ao ouvir essas palavras, contudo, antes de qualquer reflexão, quero agradecer do fundo do meu coração ao professor que deferiu tais gritos de guerra nesse nefasto dia, pois sua coragem me engradeceu de tal forma que desejo que todos os profissionais da saúde assistam esse vídeo.

Não há dúvidas, paira sobre a medicina uma sombria concepção popular de que muitos médicos são médicos pois almejam sucesso nas finanças ou ainda muitos escolhem medicina por ser um dos únicos cursos que ainda se consegue manter uma vida “digna” depois de “750 anos de estudo e 300 mil horas de trabalho/dia”. Ora, senhoras e senhores que aqui estão... Me fale, qual a felicidade que esse cidadão exprime? Em uma rápida pesquisa no Dr. Google vi que um médico do DF ganha em média R$ 8.000,00. Poderia ser 80 mil, 500 mil. Qual o salário suprimiria o desespero desse profissional? Na medicina diríamos que o sujeito está sendo espoliado. A palavra espoliar significa “ato de privar”. Esse médico foi privado de exercer uma profissão feliz, na qual tenho certeza que ele dedicou mais da metade de sua vida. Como ele mesmo disse os filhos dele estão o esperando em casa. Meu deus... Olha só, aí reside a felicidade desse sujeito, que, apesar de tudo, tenho certeza que ainda consegue ser feliz  esporadicamente no ambiente de trabalho, quando ele consegue salvar vidas de forma improvisada, pois falta tudo...

Companheiros... Esse texto meu difere muito do último, pois aqui não há informações concretas, mas sim pensamentos. Estou bastante  consternado nessa manhã de quarta feira a ponto de não consegui terminar de estudar a matéria de método clinico, a qual me consumira toda a noite anterior. Será que algum dia viverei isso? Será que estou preparado? Será que todos os estudantes de medicina do Brasil estão preparados? Nesse sentido penso que o governo deveria parar de abrir Faculdades de Medicina equipando as já existentes com Anfiteatros Flavianos, mais conhecidos como Coliseu, pois me vejo indo para um “venatio” contra a morte, principalmente no atual momento do Brasil.

Grande Abraço.

*José Eduardo Carvalho Teixeira graduou seu ensino-médio na Wichita East High School, onde foi convidado a participar do programa Youth Court desenvolvido pelo Wichita Crime Commission, figurando como conselheiro durante um ano. Atualmente cursa medicina na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora. É membro diretor da Liga de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular.


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