Bem-vindos à série "Gabinete de Curiosidades Médicas"! Aqui você vai encontrar fatos curiosos, sombrios ou interessantes sobre a história da medicina e das artes. Prepare-se para um encontro inesperado com médicos, escultores, pintores, filósofos que se unem para contar um pouco das inusitadas intersecções, costuras e remendos entre ciência, medicina e literatura no Século XIX.
Vamos lá?
Nem todos os encontros são felizes. Principalmente aqueles que envolvem uma obsessão médica sinistra.
Em 1782, Charles O’Brien media mais de dois metros e trinta centímetros de altura e chamava a atenção por onde passava. Nesse período, era considerado uma celebridade em Londres e fazia uma grana se apresentando como atração de circos e outros espetáculos sob o nome de Charles Byrne. Sua altura inspirou a criação de histórias em jornais e peças de teatro e despertou a curiosidade de muita gente.
Foi nessa época que ele teve a infelicidade de cruzar o seu caminho com o do cirurgião e anatomista John Hunter, hoje considerado o pai da cirurgia moderna. Hunter era uma figura excêntrica. Rico e renomado, tinha o seu próprio teatro anatômico, onde lecionava e mantinha uma vasta coleção privada de curiosidades anatômicas. Quando conheceu Byrne, Hunter ficou profundamente obcecado com a ideia de ter o esqueleto dele para o seu museu particular.
Por vezes ele tentou de todas as formas convencer o gigante a vender o seu corpo para pesquisa científica, mas sem sucesso. Disposto a não desistir facilmente e sabendo que pessoas gigantes tinham a vida curta, Hunter então contratou espiões para vigiar os passos de Byrne, dia e noite.
Ao perceber os planos macabros do médico, Byrne manifestou aos amigos o desejo de que seu corpo fosse encerrado em um caixão de chumbo e atirado no fundo do mar.
Quando Byrne morreu em 1873, com apenas 22 anos de idade, Hunter não perdeu tempo e deu início a um plano diabólico. Rapidamente ele tratou de subornar o agente funerário encarregado de preparar o cadáver; e no lugar do corpo de Byrne, tijolos foram colocados no caixão que foi sepultado no mar. Outra versão da história diz que o médico subornou os próprios amigos do gigante.
De posse daquele tão cobiçado corpo, Hunter o ferveu por 24 horas e em seguida separou a carne dos ossos. O esqueleto gigante ficou escondido com ele durante 4 anos, até a primeira exibição pública.
Hoje o esqueleto pertence ao Hunterian Museum, em Londres, que comprou toda a coleção que pertencia a John Hunter após a sua morte. Mais do que apenas uma peça de curiosidade, ele foi usado também para pesquisas genéticas que ajudaram na descoberta de novas informações sobre a condição popularmente conhecida como gigantismo.
A exposição dos restos mortais do gigante há tempos levanta questões éticas. Mais de uma vez, pedidos foram feitos para que o esqueleto fosse retirado de exibição e devolvido à sua região natal, ou sepultado no mar, como era a vontade original de Byrne.