Com o avanço acelerado da inteligência artificial (IA) no ambiente de trabalho, muitas discussões giram em torno de seus possíveis efeitos negativos sobre o bem-estar humano. No entanto, uma pesquisa publicada em 23 de junho de 2025 na revista Nature: Scientific Reports aponta que, pelo menos até agora, os impactos não são tão alarmantes quanto muitos temiam, e podem até serem benéficos em alguns aspectos.
O estudo, intitulado “Artificial Intelligence and the Wellbeing of Workers”, analisou duas décadas de dados longitudinais do Painel Socioeconômico Alemão (German Socio-Economic Panel - GSOEP), uma das maiores bases de dados sociais da Europa. Os pesquisadores Osea Giuntella (Universidade de Pittsburgh e NBER), Luca Stella (Universidade de Milão e Berlin School of Economics) e Johannes King (Ministério das Finanças da Alemanha) buscaram entender como a exposição à IA está relacionada ao bem-estar dos trabalhadores.
Principais descobertas
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Em termos médios, os dados não indicam efeitos significativos da exposição à IA sobre a satisfação no trabalho, satisfação com a vida ou saúde mental dos trabalhadores.
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Um dos achados mais interessantes foi a melhora modesta na saúde física percebida, especialmente entre trabalhadores com menor escolaridade. Isso pode estar relacionado à redução da intensidade física dos trabalhos, que agora contam com suporte de tecnologias inteligentes.
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A análise mostra que, em ocupações com alta exposição à IA, houve redução nas tarefas fisicamente exigentes. Isso pode significar menos desgaste corporal ao longo do tempo.
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Observou-se uma pequena diminuição nas horas semanais trabalhadas, mas sem impacto negativo em salários ou taxas de emprego. Isso sugere que a IA pode estar otimizando a produtividade sem afetar a renda dos trabalhadores, ao menos na fase inicial de sua difusão.
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Embora as medidas objetivas indiquem estabilidade ou melhora, os dados de exposição à IA autorrelatada revelaram ligeiras quedas na satisfação com o trabalho e com a vida. Isso levanta questões sobre o papel da percepção, do medo da substituição e da insegurança diante de transformações tecnológicas.
Apesar dos achados encorajadores, os autores alertam que é cedo demais para conclusões definitivas. O estudo foca no contexto alemão, um país com forte proteção trabalhista e uma adoção mais gradual da IA em comparação com mercados mais flexíveis. Além disso, os dados analisam apenas os primeiros estágios da disseminação da IA e não incluem trabalhadores mais jovens, que tendem a estar mais inseridos em ambientes digitais e automatizados.
Para os pesquisadores, os efeitos da IA sobre o trabalho não são determinados apenas pela tecnologia em si, mas sim pelas instituições, pelas políticas trabalhistas e pela capacidade de adaptação das empresas e dos trabalhadores. Em países com legislações mais frágeis ou com rápida implementação de IA sem suporte de políticas públicas, os resultados podem ser diferentes, inclusive mais negativos.
O autor Osea Giuntella, que já havia estudado os efeitos dos robôs sobre o mercado de trabalho e a dinâmica familiar, resume:
"A tecnologia por si só não determina os desfechos. As instituições e as políticas vão decidir se a IA melhora ou deteriora as condições de trabalho."
Este é um estudo inicial, mas relevante, sobre como a IA está moldando o mundo do trabalho. A IA pode estar ajudando a reduzir esforços físicos, manter empregos e até contribuir para uma melhor qualidade de vida no trabalho, especialmente entre trabalhadores com menor escolaridade.
Referência:
University of Pittsburgh. "Artificial intelligence isn’t hurting workers—It might be helping." ScienceDaily. ScienceDaily, 23 June 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/06/250623072753.htm>.