O estudo publicado em JAMA Network Open, em 8 de março de 2024, oferece insights sobre a recuperação da função renal e o prognóstico após a diálise em pacientes com lesão renal aguda que necessitam de diálise (LRA-D). Este estudo de coorte baseado na população aborda a interconexão entre a lesão renal aguda (LRA), a doença renal aguda (DRA) e a doença renal crônica (DRC), focando na avaliação do impacto da função renal basal, da gravidade da DRA e da função renal pós-DRA sobre os resultados adversos nestes pacientes.
A pesquisa destaca que mais de um quarto dos pacientes com LRA-D que se recuperaram da função renal e conseguiram suspender a terapia de substituição renal morreram, enquanto 16,7% desenvolveram doença renal em estágio terminal (DRET) e 11,1% apresentaram eventos adversos maiores cardiovasculares (MACEs) após uma média de 1,2 anos de acompanhamento.
Notavelmente, quase metade dos pacientes retornou ao seu estágio inicial de doença renal crônica após a fase de doença renal aguda. Uma das descobertas cruciais do estudo é que a função renal pós-DRA, mas não a gravidade da DRA, estava significativamente associada a todas as causas de mortalidade, MACEs incidentes, DRET e readmissão hospitalar.
Os resultados indicam que uma pior função renal pós-DRA está associada a aumentos progressivos e significativos nos resultados adversos. Isso sugere que, ao contrário da gravidade da DRA, o comprometimento renal pós-DRA pode indicar inflamação persistente, reparo renal mal-adaptativo, dano renal maior ou lesão repetida do tecido renal, o que pode explicar sua associação com resultados adversos em pacientes com LRA-D. Interessantemente, a pesquisa aponta que a função renal antes da lesão renal aguda deve ser considerada como um fator adicional que modifica o risco subsequente de mortalidade e doença renal crônica após LRA. Além disso, foi observado que pacientes com uma função renal basal pior apresentavam um risco aumentado de MACEs e DRET após o acompanhamento.
Este estudo é pioneiro em demonstrar que uma pior função renal pós-DRA está associada a aumentos progressivos no risco de mortalidade, MACEs incidentes, DRET e readmissão hospitalar. A partir desses achados, o estudo sublinha a importância de estratégias futuras incorporarem a função renal basal e a função renal pós-DRA como fatores de estratificação de risco para resultados adversos. Essa abordagem pode melhorar a predição prognóstica e fornecer informações objetivas na prática clínica, além de coordenar cuidados para reduzir a transição de DRA para DRC pós-DRA.
É fundamental reconhecer as limitações deste estudo, como sua natureza retrospectiva e o possível viés de sobrevivência saudável devido à não medição regular dos parâmetros renais. No entanto, os dados coletados de uma base de dados nacional e populacional com longo acompanhamento maximizam a implicação clínica dos achados.
Este estudo lança luz sobre a complexidade da recuperação renal e do manejo de pacientes com LRA-D, sugerindo que uma avaliação detalhada da função renal antes e depois da DRA é crucial para o manejo e prognóstico desses pacientes. Este estudo é um passo significativo para entender melhor os desafios e as estratégias potenciais no tratamento de pacientes com lesão renal aguda necessitando de diálise, oferecendo uma base sólida para futuras pesquisas e práticas clínicas voltadas para melhorar os desfechos desses pacientes.
Para aprofundar o seu conhecimento neste estudo, disponibilizamos aqui o link de acesso.
Referência:
Pan H, Chen H, Teng N, et al. Recovery Dynamics and Prognosis After Dialysis for Acute Kidney Injury. JAMA Netw Open. 2024;7(3):e240351. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.0351