Números
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, onde 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. Paralelamente à pandemia do COVID-19, no mundo hodierno, vive-se uma outra pandemia silenciosa, que é entendida pela OMS como o “mal do século”, que é a depressão e as ideações suicidas.
Estima-se que, atualmente, 322 milhões de pessoas no mundo tenham depressão. No Brasil, os números são alarmantes: dados da OMS mostram que taxas de suicídio foram 7% maiores no Brasil em 2016, último ano da pesquisa, do que em 2010. A cada 100 mil habitantes, aumentou-se 7% no Brasil, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8%, alerta a OMS. Embora os números mundiais estejam em queda, os índices ainda são preocupantes: cerca de 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.
Breve abordagem pretérita: a crise e o desespero
Durante o período conhecido como a Grande Depressão, em 1929, em que milhões em títulos foram colocados à venda sem que aparecessem compradores e os preços dos títulos desabaram e fortunas desapareceram em poucas horas, ocorreram numerosos casos de suicídio no fatídico dia chamado de “Quinta-Feira Negra”. Bancos e empresas foram à falência e milhões de trabalhadores perderam seus empregos.
Incerteza econômica e medo antecipado do futuro
Sob o atual cenário de isolamento social horizontal, é notório que a maioria das pessoas estão inerentes a maiores probabilidades de se tornarem ansiosas, irritadas, estressadas e agitadas, principalmente as com declínio cognitivo e demência. Isso porque a falta de hábitos, estudos, trabalhos e demais atividades causam um eco singular durante o período de quarentena, haja vista que o prazer pela rotina é visto como algo estruturante para muitos brasileiros. A falta de socializações, visitas parentais e coleguismos também corrobora um sentimento existencial lacunar.
Foto de Cristian Newman em Unsplash
Além disso, empreendedores, comerciantes e pessoas economicamente ativas, no geral, estão sofrendo grandes impactos psíquicos referentes ao medo antecipado do futuro, pois fatores desconhecidos e incertos fazem com que todos se sintam inseguros, principalmente em casos como esse, de nível mundial. O medo do endividamento, da falência e do desemprego se configuram como empíricos e fundados, infelizmente, mesmo diante de todas as medidas pautadas pelo governo a fim de minimizar esses potenciais impactos.
Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliário, disse que vê a possibilidade de crescimento do desemprego para mais de 40 milhões de brasileiros em decorrência da pandemia do coronavírus.
“No Brasil, onde há mais de 10 milhões de desempregados, acredito que o impacto será muito maior”, disse Benchimol.
Além disso, o empresário defendeu a criação de um Plano Marshall – pacote de reconstrução da Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
“O que temos até agora é uma gota no oceano. Tem de ser um plano de verdade, os números são assustadores, o buraco é muito mais embaixo”, reforçou.
Em resposta, o presidente da Caixa Econômica Social, Pedro Guimarães, afirmou que mais de 20 a 30 milhões de brasileiros serão impactados com as medidas atuais.
“Provavelmente vai se precisar de mais e vamos ajudar. Já estamos postergando os pagamentos, reduzindo a taxas de juros. Isso nos preocupa e está sendo liderado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes", disse Guimarães.
Outrossim, de acordo com o médico, presidente da True Health Initiative e diretor fundador do Yale-Griffin Prevention Research Center, David Katz:
“Estou profundamente preocupado que as consequências sociais, econômicas e de saúde pública desse colapso quase total da vida normal - escolas e empresas fechadas, reuniões proibidas - sejam duradouras e calamitosas, possivelmente mais graves do que o número direto do próprio vírus. O mercado de ações voltará no tempo, mas muitas empresas nunca o farão. O desemprego, o empobrecimento e o desespero que provavelmente resultarão serão flagelos de saúde pública de primeira ordem.”
Grande fluxo de informações
Conforme proferido pelo pensador Zygmunt Bauman, “somos inundados de informação e famintos de sabedoria”. Tal afirmação é tangível, principalmente diante do cenário pandêmico atual, visto que há uma gama de informações que se atualizam a todo instante, aliada e mitigada, por alguns veículos midiáticos, a sensacionalismos, bem como, na maioria das vezes, a propagação de notícias fundamentadas em números alarmantes que não consideram as alternativas resolutivas. Um bom exemplo são os testes com a cloroquina, deixando este cenário, em uma visão nietzschiana, pessimista e estagnado.
Assim, o constante fluxo informativo, presente em grande parte das programações televisivas, é matriz para estresse, preocupação e ansiedade dentro dos lares, ilustrando que o fenômeno da globalização está contribuindo para uma pandemia de pânico, gerando medo excessivo na sociedade.
Nesse sentido, é de suma importância a busca de informação, sob fontes confiáveis, em momentos específicos, como, por exemplo, duas vezes ao dia, visto que essa população tende a já saber a situação real, sintomas, forma de prevenção e o que fazer no momento, sempre focando naquilo que os ajudarão a tomar atitudes práticas e gerenciamento de emoções.
Conclusão
Dicas para manutenção da saúde mental perante a quarentena, de acordo com orientações da OMS:
evitar bombardeio de informações;
estabelecer uma rotina;
procurar terapias online;
utilizar a tecnologia para se aproximar das pessoas;
praticar atividades que gosta e meditação.
Referências
XP vê desemprego atingir 40 milhões no Brasil sem ‘Plano Marshall de verdade’: https://www.infomoney.com.br/negocios/xp-ve-desemprego-atingir-40-milhoes-no-brasil-sem-plano-marshall-de-verdade/
Coronavírus: como lidar com a ansiedade e o medo do surto: https://www.huffpostbrasil.com/entry/coronavirus-prevencao_br_5e59741ec5b6beedb4eaf039
Is Our Fight Against Coronavirus Worse Than the Disease? - The New York Times: https://www.nytimes.com/2020/03/20/opinion/coronavirus-pandemic-social-distancing.html