Imunosenescência são alterações no sistema imunológico que ocorrem devido ao envelhecimento.
O termo não é NOVO e retrata consequências clínicas das modificações na resposta imune inata e adaptativa com o decorrer da idade, que incluem aumento da suscetibilidade à infecções, tumores, autoimunidade, diminuição da resposta à vacinação e comprometimento da cicatrização de feridas.
Quando falamos de aumento da suscetibilidade à infecção, pensamos no COVID-19, um vírus respiratório emergente, que vem causando perdas irreparáveis em todo o mundo.
Podemos nos perguntar o por quê de deixarmos pessoas a partir da sexta década de vida isoladas?
Para tentar compreender algo que imunologicamente é tão amplo podemos iniciar pelas modificações que acontecem no aparelho respiratório.
Quando pensamos em imunidade inata, podemos relembrar o papel essencial do epitélio ciliado e das células secretoras de muco do aparelho respiratório. As células ciliadas impulsionam antígenos inalados e irritantes presos no muco, subindo a árvore traqueobrônquica, um processo conhecido como depuração mucociliar. Além disso, células epiteliais são capazes de produzir citocinas, principalmente interferons, importantes aliados no combate à doenças virais.
Os interferons impedem a replicação de vírus, interferindo diretamente na capacidade de replicação dentro de uma célula infectada. Eles também atuam como moléculas de sinalização que permitem que as células infectadas avisem as células próximas de uma presença viral - esse sinal faz com que as células vizinhas aumentem o número de moléculas de MHC classe I em suas superfícies, para que as células citotóxicas possam localizar e eliminar o vírus.
A Imunosenescência inata relacionada ao aparelho respiratório aborda, principalmente, a diminuição da capacidade de depuração mucociliar e de produção de citocinas nessa primeira instância. O efeito da idade na hipersecreção de muco ainda não é bem estabelecido, porém algumas pesquisas conduzidas com ratos encontraram um aumento na expressão de genes que produzem mucina em ratos mais velhos. Neste caso, o aumento do conteúdo secretório seria um fator de risco com a diminuição da depuração, sendo visto como meio de cultura para proliferação de microrganismos, algo que já é visto em paciente com DPOC, PNEUMONIAS e TABAGISTAS.
Quando levamos em conta a imunidade celular ligada ao aparelho respiratório, primeiramente devemos abordar que com o processo de envelhecimento é natural a menor produção na medula óssea de células de defesa. As células B e T, por exemplo, tem seu pico produtivo nos jovens, o que é comprovado com a involução do Timo. Embora haja algum tecido tímico funcional em idosos a qualidade dos linfócitos produzidos está profundamente alterada pelo envelhecimento.
Um exemplo ocorre em pessoas que tiveram contatos virais frequentes durante a vida, ou seja, convivem com uma infecção. O normal é que a exposição a patógenos diferentes ao longo dos anos resulte em um repertório imune diversificado que inclui um conjunto maior de células protetoras de memória. No entanto, a estimulação crônica com infecções virais persistentes, como o Citomegaloviriroses, podem esgotar as chamadas de células T naïves e resultar em uma expansão das células de memória oligoclonal ao invés de policlonal. O acúmulo de células T oligoclonais direcionaria uma imunidade específica para alguns tipos de microrganismos e esgotaria a reserva de células consideradas virgens para novos microrganismos. Fazendo com que a resposta a NOVOS INVASORES, como o COVID-19, seja mais lenta e muitas vezes ineficaz.
O início da resposta imune a um microrganismo invasor, como um vírus, requer que o hospedeiro perceba o invasor, seja pela sua constituição ou pelos produtos que libera. Quando falamos de imunidade celular lembramos das células citotóxicas, que já foram citadas acima. Essas células incluem células T CD8+ (na imunidade adaptativa) e células NK (atuantes na imunidade inata), que reconhecem uma invasão viral através do MHC-I. Além de ter a qualidade alterada algumas linhagens que interferem na ação dessas células passam a ser produzidas como células supressoras de CD8 + e redução na produção de células T CD4 +, responsáveis pela produção de citocinas e direcionamento imune e células B, responsáveis pela imunidade ligada a anticorpos, que estão associados ao aumento da morbidade e mortalidade relacionada aos indivíduos idosos.
Outro achado de imunosenescência é a presença de inflamação sistêmica crônica, caracterizada pelo aumento na produção de citocinas como da IL-6 e TNF-α, consideradas pró-inflamatórias OU PERFIL TH1. Muitos estudos apontam que no envelhecimento de um indivíduo SAUDÁVEL tem tendência para a expressão de citocinas de perfil Th2. Porém, quando levamos em conta comorbidades como OBESIDADE, DIABETES, DOENÇAS DO CORAÇÃO, DOENÇAS PULMONARES, dentre outras; Induzimos um perfil inflamatório constante.
Tendo essas fontes inflamatórias, o indivíduo tende ao fenótipo celular SASP(Fenótipo secretor associado à senescência) que pode ser adquirido pelas células uma vez envelhecidas, ou pode ocorrer de célula para célula, como um exemplo contagioso de "má companhia" que, por sua vez, desencadeiam o aumento da produção de mediadores inflamatórios como a IL-6.
Neste contexto, percebemos o quanto o envelhecimento imune é um fator de risco para o idoso em tempos de COVID-19, e que a presença de COMORBIDADES amplifica muito as respostas que podem ser desencadeadas como forma de defesa.
Desse modo nos resta respeitar as medidas de controle e resguardar as pessoas mais velha, por RESPEITO e POR AMOR.
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