Uma pesquisa publicada em JAMA Network Open, aborda sobre a prevalência de infecção bacteriana invasiva (IBI) em lactentes febris com idade entre 61 e 90 dias, desafiando diretrizes clínicas predominantes nos Estados Unidos e reforçando práticas adotadas no Reino Unido e na Europa. Os dados fazem parte de uma análise secundária do estudo multicêntrico FIDO (Febrile Infants Diagnostic assessment and Outcome), conduzido entre julho de 2022 e agosto de 2023, envolvendo 1.821 lactentes com febre (≥38 °C) atendidos em departamentos de emergência e unidades de avaliação.
As infecções bacterianas invasivas incluem a bacteremia (presença de bactérias no sangue) e a meningite bacteriana, ambas potencialmente graves em lactentes. Historicamente, a abordagem clínica é mais agressiva para crianças com menos de 60 dias, mas há variações nas diretrizes globais.
Principais Achados:
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Prevalência Geral de infecção bacteriana invasiva: Entre os 1.821 bebês analisados, 67 (3,7%) receberam este diagnóstico. Destes, 62 apresentaram bacteremia (3,4%) e 9 meningite bacteriana (0,5%).
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Distribuição por Faixa Etária:
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Até 28 dias: 6,7% apresentaram infecção bacteriana invasiva.
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29 a 60 dias: 2,8%.
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61 a 90 dias: 2,7%.
A tabela detalha as taxas de infecção bacteriana invasiva entre diferentes faixas etárias, destacando variações importantes conforme a idade e a aparência clínica.
Fonte: Umana E, Waterfield T., 2025
Estes dados indicam que esta ocorrência em bebês de 61 a 90 dias é praticamente idêntica à dos bebês de 29 a 60 dias, o que questiona diretrizes americanas que consideram bebês acima de 60 dias como grupo de baixo risco, dispensando biomarcadores e urinálise de rotina.
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Importância da Aparência Clínica:
Em bebês de 61 a 90 dias, a aparência clínica foi determinante:
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Bem aparentes: taxa de infecção bacteriana invasiva de apenas 0,4%.
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Clinicamente doentes: 4,8% (P < 0,001).
Nenhum caso de meningite foi encontrado entre os bebês com aparência bem conservada neste grupo etário.
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Tendência Decrescente com a Idade: A prevalência de infecção bacteriana invasiva caiu progressivamente de 8,8% na primeira semana de vida para 3,8% entre os 83 e 90 dias de vida.
Os achados reforçam a lógica de diretrizes britânicas e europeias, que recomendam avaliação laboratorial detalhada até os 90 dias de vida — e não apenas até os 60 dias, como proposto pelas diretrizes americanas. A taxa de infecção bacteriana invasiva acima de 1% em lactentes entre 61 e 90 dias, especialmente entre aqueles com aparência clínica alterada, justifica medidas adicionais de investigação, como hemograma, marcadores inflamatórios e urinálise.
Além disso, o estudo destaca a relevância do julgamento clínico baseado na aparência geral do bebê, com os profissionais podendo adotar uma abordagem personalizada e fundamentada em tomada de decisão compartilhada com os pais, especialmente nos casos de bebês bem aparentes
Referência:
Umana E, Waterfield T. Prevalence of Invasive Bacterial Infection Among Febrile Infants Aged 61 to 90 Days. JAMA Netw Open. 2025;8(4):e257710. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.7710