A insuficiência respiratória é a incapacidade do sistema respiratório em realizar adequadamente as trocas gasosas. O resultado é a hipoxemia, ou seja, SapO2<90% ou paO2 < 60mmHg e ou hipercapnia paCO2 > 50mmHg.
Para haver uma adequada troca gasosa, deve existir uma perfeita interação entre o sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, musculatura respiratória, sistema respiratório - composto por vias aéreas e pulmões - e sistema cardiovascular. Portanto, qualquer disfunção em um desses sistemas pode gerar insuficiência respiratória.
A Insuficiência respiratória é classificada em:
Tipo I ou hipoxêmica (paO2 < 60mmHg)
É o tipo mais comum de insuficiência respiratória, e pode ocorrer por dois mecanismos: distúrbio ventilação – perfusão (VQ) ou efeito shunt. Basicamente no distúrbio VQ ocorre um desbalanço entre a perfusão e a ventilação pulmonar, ou seja, existem aéreas perfundidas, mas não ventiladas como na pneumonia, ou então existem áreas ventiladas, mas não perfundidas como na embolia pulmonar. Particularmente, quando existem áreas ventiladas e não perfundidas, há o acúmulo de ar em unidades alveolares. Este ar não vai ser adequadamente oxigenado e, dessa forma, temos também o efeito chamado de espaço morto. Mais raramente, outra causa de insuficiência respiratória hipoxêmica é o efeito shunt. Neste caso o mais comum é existir uma deformidade anatômica intracardíaca, como uma comunicação intraventricular (CIV), a qual permita a mistura dos sangues arterial e venoso.
Tipo II ou hipercápnica (paCO2 > 50mmHg)
Existem algumas condições que geram hipoventilação alveolar, ocasionando o acúmulo de CO2 e consequente acidose respiratória. As principais causas são drogas depressoras do sistema nervoso central, DPOC agudizado, rebaixamento do nível de consciência e doenças neuromusculares.
Manifestações clínicas
O paciente em insuficiência respiratória comumente apresenta-se taquipneico, em uso de musculatura acessória, com dificuldade da fala e diaforese (transpiração excessiva).
Todos que se apresentam em insuficiência respiratória necessitam de monitorização contínua da oximetria de pulso, pressão arterial e eletrocardiograma.
Todos os pacientes em insuficiência respiratória com SpO2 < 90% necessitam de gasometria arterial preferencialmente em ar ambiente, para avaliação de outros distúrbios metabólicos associados, como acidose ou alcalose respiratória, além de realizar o cálculo da relação PaO2-FiO2.
Radiografia de tórax é outro exame complementar para todos os pacientes com insuficiência respiratória, pois comprova ou sugere o diagnóstico etiológico.
Tratamento
O principal objetivo do tratamento da insuficiência respiratória (IRpA) é manter a oxigenação e ventilação adequadas enquanto se diagnostica e trata a causa base.
A base do tratamento da IRpA é a oxigenoterapia, que pode ser ofertada via cateter nasal ou máscara simples (FiO2 até 40%), máscara com reservatório (FiO1 até 100%), ventilação não invasiva (FiO2 até 100%), ou ventilação invasiva (FiO2 até 100%). A porcentagem de oxigênio e a forma com que é ofertado vai depender do quadro clínico do paciente e da sua doença de base conforme iremos discutir nos próximos textos.
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Roberta Fittipaldi é doutora em Ventilação Mecânica pela FMUSP, especialista em Educação Médica pela Harvard TH Chan e médica atuante nas UTIs do Hospital Israelita Albert Einstein e INCOR/HC.
É também colaboradora da Academia Médica e professora do curso Ventilação Mecânica Para Não Intensivistas, um curso para relembrar conceitos básicos e aprender ainda mais sobre Ventilação Mecânica, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do paciente, intensivo ou não, que necessita de suporte ventilatório.