Com o crescente debate entre economia versus saúde, vem crescendo também a ideia de se fazer um isolamento apenas das pessoas mais idosas e com comorbidades, o chamado isolamento vertical. Essa medida esbarra em diversos problemas de execução, visto que uma porcentagem bem significativa da população é idosa, tem hipertensão arterial, diabetes, doenças pulmonares etc. E se não se encaixar no grupo, mora ou convive com alguém que tenha.
Outro problema é que, mesmo que feito adequadamente, os jovens também são acometidos significativamente pela doença, tendo taxa de internamento entre 15-20% e de UTI entre 2-4%* dos casos, logo a mortalidade relacionada ao vírus continuará bastante alta. Um estudo do Imperial College de Londres mostra um número de óbitos mais de 10 vezes maior com isolamento vertical que com uma medida que restrinja toda a população**.
Embora muitos menosprezem a letalidade da COVID-19, o que se tem visto em países atingidos intensamente pela doença, como Itália, Espanha, EUA é que as mortes relacionadas ao Coronavírus têm ficado, em algumas regiões, maiores do que as mortes por todas as outras causas. Por exemplo, na região da Lombardia (Itália), as mortes estão aumentando bem acima das mortes oficiais pela COVID-19 em relação à média histórica, o que pode indicar subnotificação dos casos, além da consequência do colapso do sistema de saúde, que leva pessoas a morrer por causas evitáveis se tivessem atendimento adequado.
Por isso, minha opinião é que se faça o possível para evitar a disseminação do vírus, visto o impacto que tem causado em países com dezenas de milhares de casos. É claro que haverá um forte impacto na economia, mas que pode ser menor do que o impacto dos países que deixaram o vírus se espalhar para daí fazer um lockdown. Quanto tempo levará para Itália voltar a funcionar normalmente? Qual o prejuízo econômico que a Itália está sofrendo nas últimas semanas? Na China que tomou atitude de fechar Wuhan quando havia por volta de 300 casos, já está voltando a operar e tem previsão de crescimento da sua economia em 2020***, além de ter muito menos mortes relacionadas ao vírus (até o momento 28/03/20) que a Itália.
Uma alternativa ao isolamento horizontal mais adequada a realidade econômica e social brasileira poderia ser o modelo chinês ou coreano de isolar apenas as regiões mais acometidas. Contudo, tal modelo demandaria um grande esforço popular (adesão ao isolamento social, higiene de mãos, etiqueta respiratória, etc), além de testagem em massa da população para mostrar as regiões que precisam de intervenção.
* https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/wr/mm6912e2.htm
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