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Lavar as mãos: porque higienizar é preciso!

Lavar as mãos: porque higienizar é preciso!
Elba Miranda
jul. 30 - 4 min de leitura
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Em tempos de coronavírus a orientação para lavar as mãos nunca foi tão massivamente recomendada. Essa medida simples faz parte da rotina diária da nossa prática médica, mas nem sempre foi assim.

Pode até parecer fake news, mas a ordem para lavar as mãos já foi bem controversa e gerou polêmica no século XIX quando essa medida não era nem cogitada.

As coisas começaram a mudar em 1840, quando um médico húngaro chamado Ignaz Phillip Semmelweis, ficou incomodado com o número expressivo de mulheres que morriam no período pós parto de uma enfermidade chamada febre puerperal. Ele testou várias hipóteses para estabelecer uma relação causal para essas mortes.

Até que um dia Dr. Semmelweis fez uma observação comparativa na rotina do hospital em que trabalhava ao perceber que os médicos que realizavam procedimentos de autópsia pela manhã, continuavam suas atividades à tarde, desta vez na maternidade, examinando e realizando partos. E entre uma atividade e outra não tinham o hábito de higienizar as mãos.

Já na ala onde os partos eram realizados por parteiras o índice de febre puerperal era bem menor, pois as parteiras não tinham contato com as autópsias. Essa observação levou o Dr Semmelweis a postular a hipótese de que "partículas cadavéricas" estavam sendo transferidas dos cadáveres para as puérperas pelas mãos dos médicos.

Naquela época, pouco se sabia sobre a ação de microrganismos na disseminação de doenças e a "Teoria do Germes" de Louis Pasteur, só viria a ser publicada décadas depois. Por isso, Semmelweis chamou os agentes causais de "matéria orgânica animal em decomposição".

Desta forma ele estabeleceu que as puérperas eram infectadas com as tais partículas após o contato com os médicos que traziam em suas mãos os patógenos da autópsia para a maternidade e assim as mulheres morriam infectadas.

Confiante de que a sua teoria estava correta, Semmelweis adotou a prática obrigatória de higienização das mãos entre os médicos do hospital geral de Viena. Para isso recomendou que o procedimento fosse realizado com uma solução de hipoclorito. O resultado foi fantástico! Em dois anos, a taxa de mortalidade entre as mulheres no puerpério caiu de 12,24% para 1,24%.

Semmelweis registrou sua experiência no livro intitulado "A etiologia, o conceito e a profilaxia da febre puerperal", no ano de 1861. Mas, apesar das evidências a teoria de Semmelweis não encontrou eco entre a comunidade médica de forma que foi tido por louco e internado em um asilo onde faleceu em 1865.

Após a morte de Semmelweis se seguiram muitas pesquisas que acabaram por comprovar a eficácia da higienização das mãos na profilaxia da infecção. Porém, o reconhecimento só viria muitos anos depois, em 1894, quando foi erguido um monumento em sua homenagem na cidade de Budapeste.

Hospitais em todo o mundo passaram a adotar a prática de lavar as mãos como rotina em seus serviços. Mas somente na década de 1980, essa medida foi oficialmente normatizada e incorporada aos cuidados de saúde nos Estados Unidos.

Hoje, quando vivenciamos a pandemia da COVID-19, quero  trazer à memória o pioneirismo do Dr Semmelweis ao observar a importância da higiene das mãos para a prática médica. Essa medida, estendida à população mundial, continua a salvar vidas ao prevenir a propagação de microrganismos causadores de infecção.

Ao Dr. Ignaz Phillip Semmelweis seja, portanto, a honra por tão grande devoção na assistência que o levou a persistir em suas pesquisas na busca pela restauração da saúde de suas pacientes. Seu legado atravessou gerações em todo o mundo e chegou aos nossos dias com a mensagem de que, mesmo com todo recurso tecnológico disponível no século XXI, precisamos continuar a fazer o básico: lavar as mãos.

Elba Miranda 
Pediatra
CRM-RO 1742/RQE 1315

 


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