Um artigo publicado em 22 de agosto de 2024 na revista Nature destaca o intenso debate na comunidade científica e clínica a respeito do Lecanemab, medicamento recentemente aprovado pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA). Esse fármaco, um dos pioneiros em retardar o declínio cognitivo em pacientes com Alzheimer, representa um progresso significativo no tratamento desta enfermidade, mas também suscita preocupações quanto a seus benefícios versus os riscos envolvidos.
Lecanemab, também conhecido como Leqembi, é um anticorpo monoclonal que atua eliminando o amiloide, uma substância que forma aglomerados tóxicos no cérebro de pessoas com Alzheimer. Este medicamento foi desenvolvido pela Eisai em Tóquio e pela Biogen em Cambridge, Massachusetts, e já recebeu aprovação em diversos países, incluindo China, Japão, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos.
Eficácia e Segurança: Uma Análise Cautelosa
O ponto central do debate é se a redução do declínio cognitivo proporcionada pelo Lecanemab é clinicamente significativa para justificar seu uso, dadas as preocupações com os efeitos colaterais. Em um ensaio clínico de fase III publicado em 2022, o medicamento demonstrou reduzir o declínio cognitivo em 27% após 18 meses de tratamento em comparação com um placebo. No entanto, alguns especialistas argumentam que os efeitos são modestos e as diferenças absolutas na função cognitiva são pequenas.
Além disso, preocupações com a segurança do tratamento têm sido destacadas, especialmente em relação às anormalidades relacionadas ao amiloide por imagem (ARIA), que podem incluir sangramento ou inchaço no cérebro. Essas complicações são raras, mas significativas, e foram motivo de alerta por parte da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA).
Perspectivas
Os dados de longo prazo, apresentados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC) em Filadélfia, mostraram que após três anos de tratamento contínuo, mais da metade dos pacientes apresentou melhorias. No entanto, a eficácia a longo prazo do medicamento ainda necessita de mais dados, especialmente porque os efeitos parecem retornar aos níveis do placebo quando o tratamento é interrompido.
Os especialistas também preveem que, no futuro, terapias combinadas que incluem agentes de limpeza de amiloide como o Lecanemab podem se tornar uma abordagem padrão, dado que o tratamento da doença de Alzheimer provavelmente exigirá uma estratégia multifacetada.
A aprovação do Lecanemab traz esperança para muitos, mas também levanta questões críticas sobre custos, benefícios e riscos associados. Enquanto algumas partes da comunidade médica veem isso como um avanço significativo, outras permanecem céticas quanto à sua eficácia geral e ao equilíbrio entre riscos e benefícios.
Referência:
Kwon, D. (2024, August 22). Debate rages over Alzheimer’s drug lecanemab as UK limits approval. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-02720-y