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Na última quarta-feira (18/06), a FDA deu sinal verde para o lenacapavir, uma nova abordagem de PrEP (profilaxia pré-exposição) que promete transformar a prevenção do HIV: duas injeções por ano e uma eficácia que beira os 100%. Batizado de Yeztugo®, o medicamento é, segundo muitos especialistas, o que mais se aproxima de uma “vacina” contra o HIV, mesmo sem sê-lo.
A aprovação representa um marco. Até agora, a PrEP se baseava em comprimidos diários ou injeções a cada dois meses. Essa nova formulação, de aplicação a cada 26 semanas, oferece uma opção mais simples, discreta e possivelmente mais aderente para milhões de pessoas.
🧬 Como funciona?
O lenacapavir inaugura uma nova classe terapêutica: os inibidores do capsídeo. Ele atua bloqueando a proteína p24, peça-chave na montagem e desmantelamento do vírus dentro das células hospedeiras. Com isso, o HIV é travado em etapas críticas do seu ciclo de vida: entrada, replicação e saída do núcleo celular.
A molécula tem uma longa meia-vida e altíssima potência. O desenvolvimento não foi simples: mais de 4 mil compostos foram sintetizados até se chegar à estrutura atual. O resultado? Um antiviral de liberação lenta, capaz de manter níveis terapêuticos estáveis por meses.
📊 O que mostraram os estudos?
Dois grandes ensaios clínicos multicêntricos (realizados na África, América Latina, EUA e Sudeste Asiático) compararam o lenacapavir com o uso diário de comprimidos orais.
Os números impressionam:
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Em mulheres cisgênero: nenhuma infecção por HIV entre as participantes que receberam a injeção.
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Em homens que fazem sexo com homens e pessoas trans: eficácia próxima de 100%.
Os efeitos adversos foram, em sua maioria, reações no local da aplicação — dor, inchaço ou nódulos — mas raramente motivaram a interrupção da terapia (menos de 1%).
💰 Preço e acesso
A boa notícia vem com um aviso: o preço do Yeztugo nos EUA é de US$ 28 mil por ano. A Gilead, fabricante do medicamento, já anunciou programas de assistência para pacientes sem cobertura e negociações com planos de saúde privados.
Mas a grande questão é global: como garantir o acesso nos países de baixa e média renda? Organizações como o Global Fund, PEPFAR e Gates Foundation já se movimentam para incluir o lenacapavir em seus programas de saúde pública, mas ainda faltam aprovações regulatórias fora dos EUA.
👩⚕️ O que muda na prática médica?
A chegada do lenacapavir obriga a repensar como oferecemos PrEP no dia a dia:
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Mais adesão: ao trocar a rotina diária por uma aplicação semestral, aumentamos a chance de continuidade.
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Menos estigma: a medicação não precisa estar visível no cotidiano.
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Nova logística: é necessário estruturar calendários, acompanhamento e capacitação das equipes para aplicação e monitoramento.
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Educação do paciente: é fundamental explicar que não se trata de uma vacina, mas de uma alternativa com eficácia comparável.
🧑⚕️
“O lenacapavir é uma daquelas inovações que mudam o campo de jogo. Não só pela eficácia, mas pelo simbolismo: caminhar para uma prevenção mais simples, discreta e duradoura. Agora, o desafio é garantir que essa inovação não fique restrita a poucos. Como médicos, nosso papel é também pensar em acesso, equidade e acolhimento ao novo.”
Referência:
Garde, D. (2025, June 18). HIV protection with just two shots a year: FDA approves Gilead drug. STAT. https://www.statnews.com/2025/06/18/fda-approves-gilead-hiv-prevention-drug-lenacapavir-yeztugo-next-best-thing-to-vaccine/