Pesquisas indicam que a nova geração de medicamentos contra a obesidade, conhecidos como agonistas do receptor GLP-1, além de serem eficazes no tratamento da diabetes e na redução de peso, apresentam uma habilidade surpreendente: a capacidade de suprimir inflamações. Este achado abre portas para potenciais tratamentos de doenças como Parkinson e Alzheimer, caracterizadas por inflamações cerebrais.
O estudo, publicado na revista Nature em 26 de janeiro de 2024, trouxe uma descoberta surpreendente sobre os medicamentos contra obesidade da mais recente geração. Os agonistas do receptor GLP-1, que incluem nomes comerciais como Mounjaro e Wegovy, mostraram-se promissores não apenas no tratamento da obesidade e diabetes, mas também na supressão da inflamação em órgãos vitais, incluindo o cérebro. Esta revelação tem implicações significativas para o tratamento de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer.
🩺Inflamação e GLP-1:
Os agonistas do receptor GLP-1, como semaglutide (Wegovy para obesidade, Ozempic para diabetes) e tirzepatide (Mounjaro para diabetes, Zepbound para obesidade), imitam um hormônio intestinal chamado GLP-1. Este hormônio age no cérebro para diminuir o apetite e controlar os níveis de açúcar no sangue. Além disso, estudos recentes mostram que o GLP-1 e seus análogos têm a capacidade de acalmar a inflamação causada por uma enxurrada de células imunológicas e substâncias químicas do sistema imunológico.
Experimentos em modelos animais demonstraram a eficácia do liraglutide, um agonista do receptor GLP-1, em reduzir a inflamação do fígado em ratos com fígado gorduroso. Efeitos semelhantes foram observados em estudos piloto em humanos. Além disso, experimentos mostraram o potencial anti-inflamatório do liraglutide em rins e coração, e a própria GLP-1 reduziu a inflamação em tecido adiposo em ratos obesos e diabéticos.
🧠Efeitos no Cérebro:
Estudos conduzidos por Daniel Drucker, endocrinologista da Universidade de Toronto, e sua equipe, revelaram que, embora os receptores de GLP-1 sejam escassos em células imunes em muitos tecidos, eles são abundantes no cérebro. Em experimentos com camundongos, os medicamentos GLP-1 melhoraram a inflamação generalizada. No entanto, quando os receptores de GLP-1 no cérebro dos animais foram bloqueados, os medicamentos perderam sua capacidade anti-inflamatória.
⚕️Implicações para Doenças Neurodegenerativas:
A ação anti-inflamatória dos medicamentos GLP-1 tem grande promessa no tratamento de doenças neurodegenerativas. Em Parkinson e Alzheimer, as proteínas patológicas interagem com receptores no cérebro, induzindo inflamação. Os agonistas do receptor GLP-1 parecem ser capazes de reduzir essa inflamação cerebral, possibilitando processos importantes como a neurogênese.
Em um ensaio clínico, o agonista do receptor GLP-1 chamado exenatide mostrou maior melhora nas habilidades motoras de pessoas com Parkinson em comparação com um placebo. Além disso, semaglutide está sendo testado como terapia para Alzheimer em estágio inicial.
🚀Potencial Além da Diabetes e Obesidade:
A ação anti-inflamatória dos medicamentos GLP-1 pode também aprimorar sua eficácia contra diabetes e obesidade, que são, por si só, doenças inflamatórias. Interessantemente, a semaglutide demonstrou proteção robusta contra doenças cardiovasculares em pessoas com obesidade.
O potencial dos medicamentos GLP-1 no tratamento de doenças relacionadas à inflamação é vasto, especialmente considerando seu perfil de efeitos colaterais, relativamente suave. Isso sugere uma expansão significativa no uso desses medicamentos no futuro.
Referência:
Lenharo, M. (january, 26 2024). Obesity drugs have another superpower: taming inflammation. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00118-4#ref-CR8