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Medicamentos Psiquiátricos e Risco de Esclerose Lateral Amiotrófica

Medicamentos Psiquiátricos e Risco de Esclerose Lateral Amiotrófica
Comunidade Academia Médica
jun. 7 - 6 min de leitura
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Estudo inédito liga o uso prévio de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos ao maior risco de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e pior prognóstico entre os pacientes diagnosticados.

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta neurônios motores superiores e inferiores, levando à paralisia muscular, dificuldades respiratórias e, eventualmente, à morte. Tradicionalmente considerada uma condição exclusivamente motora, a ELA é hoje entendida como uma doença mais ampla, envolvendo também alterações comportamentais e sintomas psiquiátricos, como depressão e ansiedade.

O estudo sueco publicado em 4 de junho de 2025, em  JAMA Network Open, mostra correlações entre distúrbios psiquiátricos e a ELA. Utilizando registros populacionais e clínicos de abrangência nacional, os pesquisadores analisaram o uso prévio de medicamentos ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos e sua associação tanto com o risco de desenvolver ELA quanto com o prognóstico da doença.

Os pesquisadores utilizaram um modelo de caso-controle aninhado com base em registros populacionais de mais de 80% dos pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) diagnosticados no país entre 2015 e 2023. A amostra foi composta por 1.057 indivíduos com diagnóstico confirmado de ELA, de acordo com os critérios revisados de El Escorial. Para cada caso, foram selecionados cinco controles da população geral, pareados por idade e sexo, que não haviam sido diagnosticados com ELA até a data de diagnóstico do caso correspondente. Além disso, o estudo incluiu como controles os irmãos biológicos e cônjuges dos pacientes, permitindo avaliar possíveis fatores genéticos e ambientais familiares como elementos de confundimento.

Principais Descobertas

1. Uso prévio de medicamentos psiquiátricos aumenta o risco de ELA:

  • Indivíduos que receberam ao menos duas prescrições de ansiolíticos ou antidepressivos entre 1 e 5 anos, ou mesmo mais de 5 anos antes do diagnóstico, apresentaram maior risco de desenvolver ELA.

  • Este risco foi mais evidente em indivíduos com menos de 65 anos, sugerindo que sintomas psiquiátricos podem ser um dos primeiros sinais (ou pródromos) da doença.

2. Pior prognóstico entre os pacientes com uso prévio de psicotrópicos:

  • Pacientes com ELA que haviam utilizado antidepressivos antes do diagnóstico apresentaram menor sobrevida e declínio funcional mais rápido, medido pela escala ALSFRS-R.

  • O uso de ansiolíticos também esteve associado a maior mortalidade.

3. Hipnóticos e sedativos também foram associados ao risco aumentado de ELA, mas com ressalvas:

  • Embora o uso desses medicamentos tenha se correlacionado com maior risco de ELA, os resultados não se mantiveram nas comparações entre parentes próximos, o que sugere possível influência de fatores genéticos e ambientais compartilhados.

🟦 A figura, extraída do conteúdo original, lustra a associação entre o diagnóstico de ELA e o uso prescrito de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos ou antidepressivos realizados mais de um ano antes do diagnóstico:


4. Efeito da idade e vigilância diagnóstica:

  • O aumento do risco de ELA relacionado ao uso de medicamentos psiquiátricos foi observado principalmente em indivíduos mais jovens. Isso pode refletir maior vigilância médica nesse grupo, levando a um diagnóstico precoce, ou a maior prevalência de manifestações psiquiátricas em pacientes com ELA de início precoce.

5. O papel das doenças psiquiátricas como precursores da ELA:

  • A associação entre o uso de psicotrópicos mais de cinco anos antes do diagnóstico sugere que distúrbios como depressão, ansiedade e insônia podem preceder a manifestação clínica da ELA, possivelmente refletindo alterações neurobiológicas iniciais da doença.

6. Mecanismos possíveis:

  • Os autores destacam que distúrbios psiquiátricos e a ELA podem compartilhar mecanismos patológicos comuns, como disfunção do eixo HPA, alterações glutamatérgicas, inflamação neuroglial e acúmulo de proteínas anormais.

  • Genes como CNTN6 e GLT8D1, associados tanto à ELA quanto à esquizofrenia, reforçam a hipótese de sobreposição genética.

Este estudo reforça a importância de uma visão integrativa entre neurologia e psiquiatria, indicando que sintomas emocionais e cognitivos não devem ser desconsiderados ou vistos apenas como reações secundárias ao diagnóstico. Em alguns casos, podem ser parte do próprio curso da ELA.

Além disso, os achados alertam para a necessidade de monitoramento clínico mais atento em pacientes jovens com histórico de distúrbios psiquiátricos, especialmente aqueles com uso prolongado de ansiolíticos ou antidepressivos.

🟦 Na figura abaixo, também extraída do conteúdo original, é possível observar a associação entre o risco de morte após o diagnóstico de ELA e o uso prévio de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos ou antidepressivos, evidenciando o impacto negativo dessas medicações no prognóstico e na sobrevida dos pacientes:


Limitações e Pontos de Atenção

  • Os medicamentos avaliados são usados para diversas indicações, e houve sobreposição nos diagnósticos, o que dificulta a atribuição causal direta.

  • A continuidade do uso não pôde ser avaliada com precisão — foram consideradas ao menos duas prescrições, mas sem garantia de uso contínuo.

  • Informações genéticas, como a presença do gene C9orf72, foram limitadas aos pacientes, o que impede maior estratificação por fatores genéticos.

Para profissionais de saúde, isso representa um convite à abordagem multidisciplinar e vigilância clínica desde os primeiros sintomas psiquiátricos. Para pesquisadores, abre novas portas para investigar os mecanismos biológicos compartilhados entre distúrbios mentais e neurodegeneração.


Referência:

Chourpiliadis C, Lovik A, Ingre C, et al. Use of Common Psychiatric Medications and Risk and Prognosis of Amyotrophic Lateral Sclerosis. JAMA Netw Open. 2025;8(6):e2514437. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.14437



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