Não há outra profissão na face da terra que lide tanto com a fragilidade humana quanto a medicina. Todas as profissões da saúde desenvolvem a promoção de saúde e a atenuação da doença, mas apenas o médico está ( ou deveria estar ) completamente imerso nas diversas nuances da miséria que o fim da vida pode impor ao homem.
Trago esta passagem do Eclesiástico 38 1-15, não só para lembrar a nossa falibilidade frente ao término da vida, mas justamente para lembrar a nossa função de fornecer os meios que afastem o nosso paciente dos sofrimentos inerentes a um diagnóstico difícil e a um prognóstico ruim.
Neste momento, não me importa a religião que você segue, ou sequer se tem alguma religião. Creio que o importante é entendermos as diversas características que faz da medicina a mais humana das ciências e a mais científica das humanidades.
Essa passagem foi lida no culto ecumênico da minha formatura, e na formatura de muitos os que acompanham o Academia Médica. Quando estou frente a algum desafio, é algo que sempre me retorna a memória, e impulsiona a lutar pelo melhor para meu paciente.
Eclesiástico 38 (1-15)
1. Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. 2.(Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei: 3. a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes.
4. O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza.
5. Uma espécie de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens.
6. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; 7. e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, 8. até que a paz divina se estenda sobre a face da terra.
9. Meu filho, se estiveres doente não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te curará. 10. Afasta-te do pecado, reergue as mãos e purifica teu coração de todo o pecado. 11. Oferece um incenso suave e uma lembrança de flor de farinha; faze a oblação de uma vítima gorda.
12. Em seguida dá lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária.
13. Virá um tempo em que cairás nas mãos deles. 14. E eles mesmos rogarão ao Senhor que mande por meio deles o alívio e a saúde (ao doente) segundo a finalidade de sua vida. 15. Aquele que peca na presença daquele que o fez, cairá nas mãos do médico.
Nossa profissão é dotada dos meios para um desfecho de uma doença, mas trabalhamos frente a complexidade do homem que enfrenta as limitações de saúde que a vida o impõe. Saber comunicar melhor, entender a fé de nossos pacientes, é apenas mais um passo para desenvolver melhor nosso dignificante trabalho.
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