O Ministério da Saúde deu um passo importante no cuidado à população idosa ao anunciar, por meio da Portaria SECTICS/MS nº 20/2025, a ampliação do uso da donepezila para pacientes com Doença de Alzheimer em estágio grave. Antes restrito aos casos leves e moderados, o medicamento passa a ser ofertado também para quadros mais avançados da doença no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A decisão, publicada oficialmente nesta quinta-feira (15), é fruto da atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Doença de Alzheimer, e foi fundamentada em evidências científicas analisadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). A proposta de ampliação foi demandada pelo próprio Ministério da Saúde e representa um avanço concreto no enfrentamento dos desafios impostos pelo envelhecimento populacional.
A donepezila, um inibidor seletivo da acetilcolinesterase, tem se mostrado eficaz na preservação das funções cognitivas, na redução de sintomas neuropsiquiátricos e na manutenção da funcionalidade em pacientes com Alzheimer. Estudos apresentados à Conitec indicam que a continuidade da terapia com donepezila mesmo em fases avançadas pode:
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Reduzir sintomas comportamentais como apatia, agitação e confusão mental;
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Aumentar a estabilidade clínica, evitando agravamentos súbitos;
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Adiar a institucionalização do paciente, prolongando a permanência no ambiente familiar;
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Melhorar a qualidade de vida tanto do paciente quanto dos cuidadores.
A ampliação do uso desse medicamento se soma à já existente oferta da memantina, recomendada para quadros graves, e dos fármacos rivastigmina e galantamina, utilizados para os estágios iniciais e moderados da doença. O Ministério estima que cerca de 10 mil pessoas devem ser beneficiadas no primeiro ano dessa nova diretriz.
A secretária da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS), Fernanda De Negri, destacou que a incorporação da donepezila nos estágios graves do Alzheimer “reforça a importância das políticas públicas de saúde que respondem aos desafios do envelhecimento com dignidade, qualidade e equidade”.
No SUS, o cuidado com pacientes com Alzheimer é garantido por uma rede estruturada de serviços especializados, que inclui:
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Centros de Referência em Neurologia habilitados pelo Ministério da Saúde;
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Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Neurocirurgia;
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Programa Melhor em Casa, que oferece atendimento domiciliar por equipes multiprofissionais;
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Atividades ambulatoriais e hospitalares coordenadas conforme as diretrizes do PCDT.
De janeiro a março de 2025, foram registrados mais de 7 milhões de atendimentos ambulatoriais relacionados ao Alzheimer e 576 hospitalizações em todo o país, de acordo com dados dos sistemas SIA e SIH do Ministério da Saúde.
A Doença de Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa crônica e progressiva, sem cura, mas que pode ter seu curso clínico modificado por intervenções terapêuticas precoces e contínuas. A ampliação do acesso à donepezila para estágios graves indica um movimento importante do SUS em adotar estratégias farmacológicas e não farmacológicas integradas, valorizando não apenas o prolongamento da vida, mas a manutenção da autonomia, bem-estar e suporte aos cuidadores.