Um dos grandes desafios da saúde pública é o estabelecimento de uma comunicação efetiva, na qual um profissional consegue ser claro na sua mensagem e o paciente compreende o que está sendo dito. Existe uma frase atribuída ao psicanalista francês Jacques Lacan que define bem essa questão: a essência da comunicação é o mal-entendido.
O primeiro questionamento é: o que você entende por cura?
A palavra curar ou cura se insere nesse mal-entendido, cada personagem guarda um conceito particular. O cardiologista tem um, o infectologista tem outro diferente, o psiquiatra guarda outra perspectiva e o paciente carrega um significado diferente de todos os anteriores.
Nos dicionários são listados inúmeros verbetes. Tratamento da saúde, reestabelecimento da saúde, melhora, regeneração. No sentido popular, entende-se como cura a resolução final, definitiva e irrevogável do problema, por exemplo, para uma infecção bacteriana a cura é o antibiótico.
Entretanto, a palavra cura, de origem latina, tem como significado primário: administração, cuidado. O segundo questionamento que se põe é: existe alguma situação que não há cura na medicina?
A pergunta nasce do incômodo originado da fatídica frase: não existe cura para essa doença. Ora, pois! O cuidado ou o curar, não é vinculado a resolução definitiva do problema. Existem situações de saúde que de fato não há como evitar o abreviamento da vida. Todavia, a maior prova que até no curso final da vida existem curas é haver os cuidados paliativos, que em linhas gerais, pode-se entender como ações para promover uma maior qualidade de vida de um paciente que esteja submetido a uma condição de saúde grave. Em outras palavras, a promoção da cura, a qual a partir desse momento chamarei de “Cura” com a inicial maiúscula, pois, é ela que nos interessa.
Outro questionamento, tendo como definição livresca, a medicina como a arte da cura, a partir do momento que um paciente terminal não tiver como superar uma doença, faz-se o que? Engenharia? Faz-se medicina! A grande diferença está em como entendemos a palavra Cura.
Hipertensão, Diabetes, Depressão. Doenças sem cura, os pacientes serão largados a própria sorte? A Cura, com inicial maiúscula, ainda está por ser entendida. A dificuldade de lidar com a palavra Cura é o indicativo de como é difícil para os médicos, até mesmo após anos de profissão, em encarar a morte, os transtornos mentais, o aborto e os erros médicos, pois, nessas situações a cura, com inicial minúscula, não esteve presente.
Como afirmou o médico Drauzio Varella, a medicina existe para aliviar o sofrimento humano.
Reforço, aliviar. Nem sempre será possível livrar do sofrimento, nem sempre será possível curar. Porém, Curar sempre é possível.
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Não existe cura na medicina
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