Nota do editor: texto publicado originalmente no dia 02 de outubro de 2016.
Relembrando um dia muito especial. Como alguns sabem sou um entusiasta das relações humanas entre médicos, entre nós e os profissionais de saúde e, principalmente, entre nós e os pacientes.
Voltando ao meu dia especial, hoje tive a oportunidade de entregar solenemente a carteira de trabalho médico a mais de 230 novos colegas aqui do Paraná. Algo que me trouxe um sentimento de que, de alguma forma, estou fazendo algo de bom pela medicina brasileira. Parece massagem de ego. Pode ser um pouco. Mas, de fato, foi um dia que me trouxe muitas reflexões.
Uma delas cabe ao poema de John Donne chamado "Nenhum homem é uma ilha", que você lê a seguir:
Nenhum homem é uma ilha isolada;
cada homem é uma partícula do continente,
uma parte da terra;
e um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída,
como se fosse um promontório,
como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria;
a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do gênero humano.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti.
O que tudo isso quer dizer? Na minha humilde leitura, de médico com apenas 6 anos de formado que teve este privilégio de receber os novos colegas nesta desafiadora profissão, somos parte de um todo, e o todo é parte de nós mesmos.
Certa vez, quando ainda dava aula de semiologia médica na PUCPR, campus Londrina, tive a oportunidade de orientar um trabalho que, posteriormente foi premiado na semana acadêmica da instituição, com base nesse poema.
A pergunta que motivou o trabalho foi: Será que o acadêmico de medicina realmente sabe a função de cada um dos profissionais envolvidos no tratamento de um paciente em âmbito hospitalar?
Um questionário foi aplicado, validando a percepção dos atributos variados. Foram setenta e poucos acadêmicos que responderam a pesquisa - estou sem o paper aqui, mas espero que a acadêmica (agora médica residente em GO) Graziela Leal ainda o tenha- , que apontaram que a maioria das atribuições seriam de responsabilidade exclusiva do médico, que ele sozinho teria a responsabilidade sobre ações das diversas profissões que também cuidam do paciente enfermo.
Então, para este grupo pesquisado ( não só acadêmicos da instituição) a decisão sobre curativos, sobre ofertas nutricionais, sobre métodos de coletas de exames laboratoriais, sobre parâmetros da respiração assistida, sobre a comunicação de más notícias a familiares dos pacientes (tais como paliação ou não investimento em suporte de vida) seriam única e exclusivamente do médico, sem a participação de outros profissionais.
Essa reflexão vem a tona neste momento por tomarmos a responsabilidade por coisas que não são de nossa alçada. A responsabilidade e liderança sob o cuidado do paciente continua sendo nossa, mas precisamos saber dividir com todos os que estão nessa jornada de melhorar a vida do próximo.
Não. O médico não é e nem pode ser uma ilha. Ele tem que fazer parte do todo. Ele tem a obrigação de fazer com que a Europa não perca mais um pequeno território para o mar. Ele tem que saber que os sinos se dobram pelo paciente ao mesmo tempo que se dobram por ele e por seus colegas de luta pela diminuição do sofrimento do paciente.
Gostaria de estender essa pesquisa a um grupo maior. Podemos fazer isso juntos. entre em contato. Caso queira recrutar alguém para colaborar com sua pesquisa, o Academia Médica é seu espaço para isso. Escreva para nós!
Vamos expandir os horizontes do médico e precisamos do seu conhecimento para isso!