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Novo coronavírus e teratogênese. Existe alguma relação?

Novo coronavírus e teratogênese. Existe alguma relação?
Diego Arthur Castro Cabral
abr. 11 - 6 min de leitura
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O que é teratologia e os agentes teratogênicos?

A teratologia é a ciência que estuda e investiga as anomalias físicas que ocorrem antes do bebê nascer, também conhecidos como defeitos congênitos, e suas origens. No nascimento, a incidência de malformações congênitas é de 2-3%. [1] Os fatores que induzem malformações congênitas são denominados "agentes teratogênicos"; eles incluem agentes ambientais, como drogas, vírus, bactérias, falta (ou excesso) de nutrientes e elementos físicos ou químicos que, em contato com o embrião/feto, podem gerar alterações morfológicas ou funcionais no recém-nascido. [2]

O período do desenvolvimento do bebê que é mais sensível a estes agentes teratogênicos compreende às primeiras oito semanas. Esse é um período extremamente delicado do desenvolvimento humano e inclui o primeiro mês de atraso na menstruação, onde normalmente às gestantes ainda não percebem que estão grávidas e não se atentam ao risco de se expor a estes agentes. [3]

 

Infecções virais e efeitos teratogênicos: o exemplo da Zika e da microcefalia

Como vimos anteriormente as infecções virais podem ser agentes teratogênicos. Tal fato ficou evidente no Brasil nos numerosos casos de microcefalia associados à introdução do Zika vírus em território nacional.

Desde a identificação do Zika vírus no Brasil no início de 2015, o vírus se espalhou rapidamente pelas Américas. Um aumento no número de bebês com microcefalia no Brasil foi observado pela primeira vez em setembro de 2015, após o reconhecimento da transmissão do vírus Zika no país no início do ano; isso foi seguido pelo reconhecimento de um aumento semelhante na Polinésia Francesa após um surto ocorrido em 2013 e 2014. [4]

Logo os casos de microcefalia e outros defeitos congênitos foram associados à infecção pelo vírus durante a gestação. Contudo, outros vírus também podem causar anomalias como o citomegalovírus, HIV, herpes e outros. [3]

 

Covid - 19: existe evidência científica de teratogenia?

Em toda gravidez, a mulher começa com 3-5% de chance de ter um bebê com malformação congênita. Para grávidas que foram infectadas pelo novo coronavírus não há estudos publicados ou evidências de um risco aumentado de aborto espontâneo, teratogenicidade ou transmissão vertical da COVID-19. [5] Como a COVID-19 ainda está se disseminando, é provável que ocorram mais infecções em mulheres grávidas e mais dados estejam disponíveis brevemente.

No mundo já existiram outros dois grandes surtos de coronavírus. O primeiro ocorreu no ano de 2002 e causou a síndrome respiratória aguda grave (SARS) que é uma doença respiratória aguda grave causada pelo coronavírus SARS (SARS-CoV). A outra (MERS-CoV), foi identificada em 2012 como a causa da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) [6]. Desses dois acontecimentos alguns dados foram obtidos de estudos com esses coronavírus:

  • doença materna com aumentado risco de vida;

  • restrição de crescimento intrauterino;

  • parto prematuro;

  • abortos espontâneos e,

  • morte perinatal.

Contudo, apesar dessas doenças apresentarem um coronavírus como agente etiológico, são doenças diferentes da atual pandemia (SARS-CoV-2). Ainda nos resta realizar estudos com altos níveis de evidência para analisar como esse coronavírus recém-emergente afeta mulheres grávidas e seus bebês, bem como quais fatores podem modular doenças e resultados obstétricos.

Isso inclui o momento da exposição materna ao coronavírus, os efeitos de medicamentos ou outros regimes de tratamento, diferenças nas respostas imunes do hospedeiro, ocorrência de condições médicas e obstétricas coexistentes e outras variáveis. [6]

 

Cuidados com as gestantes

O Ministério da Saúde (MS), no “PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DO CORONAVÍRUS (COVID-19) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE”, classifica as gestantes como grupo de atendimento prioritário junto com doentes crônicos e puérperas. Além disso, traz algumas recomendações que são expostas na figura 1.

Figura 1: Recomendações para gestantes e puérperas segundo o MS. Fonte: Adaptado do PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DO CORONAVÍRUS (COVID-19) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (2020).

Até onde as evidências atuais indicam, gestantes e puérperas não possuem risco individual aumentado. Contudo, medidas devem ser adotadas para proteção da criança. Além disso, gestantes e puérperas tem maior potencial de risco para desenvolvimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave por Síndrome Gripal decorrente do vírus da Influenza. [7]

Apesar de termos fortes recomendações do MS no manejo de gestantes e puérperas, o estudo dos efeitos do novo coronavírus em gestantes e recém-nascidos é escasso e emerge como campo de pesquisa urgente com potencial de mudar as atuais recomendações para as gestantes com potencial de salvar vidas.

 

Referências

1. Sadler TW, Thomas W, Langman J. Langman’s medical embryology. 11th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, Lippincott Williams & Wilkins; 2010.

2. Haroun HS. Teratogenicity and teratogenic factors. MOJ Anatomy and Physiology. 2017;3(1):1-5.

3. Urbanetz AA. Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo para o Médico Residente. São Paulo. 2016:1152-69.

4. Rasmussen SA, Jamieson DJ, Honein MA, Petersen LR. Zika virus and birth defects—reviewing the evidence for causality. New England Journal of Medicine. 2016 May 19;374(20):1981-7.

5. “COVID-19”. MotherToBaby, https://mothertobaby.org/fact-sheets/covid-19/. Acessado 7 de abril de 2020.

6. Swartz D, Graham A. Potential Maternal and Infant Outcomes from Coronavirus 2019-nCoV (SARS-CoV-2) Infecting Pregnant Women: Lessons from SARS, MERS, and Other Human Coronavirus Infections.

7. Ministério da Saúde. PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DO CORONAVÍRUS (COVID-19) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/20/20200318-ProtocoloManejo-ver002.pdf

 


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