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O anatomista Leonardo Da Vinci

O anatomista Leonardo Da Vinci
Millena Catharino
mar. 12 - 6 min de leitura
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Estudos de embriões (1510–1513) nos quais retrata imagens impossíveis de se ver na época, mas completamente atuais.

O pintor discute e compara com a natureza"  ou "A necessidade exige que a mente do pintor para colocar no lugar do espírito da natureza, e o intérprete entre a natureza e a arte, ele usa uma célula para liberar as razões para suas ações sujeitas a suas próprias leis."

Conhecido por suas obras de arte como pintor (pinturas como“Mona Lisa” e “A Santa Ceia” e o “Homem Vitruviano”), escultor e músico, Leonardo Da Vinci também foi engenheiro, arquiteto e inventor (paraquedas, helicópteros, maquinas voadoras, asa-delta, pontes móveis). O que muitos não sabem é que, para poder ser esse gênio das inúmeras facetas da ciência, Da Vinci era um exímio anatomista. Ele começou a estudar o corpo humano para aperfeiçoar sua arte e acabou se apaixonando.

Leonardo viveu no tempo conhecido como Renascentismo, o século das luzes. Nessa época antropocentrista (onde o homem era o centro de universo) o estudo da filosofia, dialética e das ciências, incluindo a anatomia voltaram a luz após longos anos de escuridão. Também voltaram ao estudo da mitologia, filosofia e ciência da antiga Grécia.

O artista começou com a leitura de autores pré-renascentistas como Galeno de Pérgamo(129-200) Avicena(980-1037) e Mondino dei Luzzi(1270-1326) e, com base nisso, fez ilustrações dos sistemas anatomofuncionais humanos. Ele também participou da dissecção de cadáveres de animais. O resultado preliminar foi a ilustração de uma cabeça humana em que dois olhos estão acoplados a três câmaras no cérebro: processamento, pensamento e memória. Este desenho representava os precários conhecimentos do corpo humano da época. Em sequência aperfeiçoou-se com o estudo de cadáveres humanos.Entre 1510 e 1511, quando trabalhou com o professor de anatomia Marcanttonio Della Torre, da Universidade de Pádua, teve acesso a 20 corpos.

Em suas figuras, era frequente o uso de roldanas e engrenagens para compreender melhor o funcionamento dos movimentos e das estruturas. Ele utilizava de secções transversais, planos exploratórios. Destacava e detalhava as partes mais importantes. Ele também utilizou suas habilidades como escultor ao preencher os ventrículos cerebrais com parafina, facilitou a dissecção. Foi um aventureiro, pois, naquela época, algumas estruturas nem eram nomeadas. Se suas figuras tivessem sido publicadas em seu tempo, seriam pelo menos 20 anos antes que o ilustre belga Aldreas Vesalius, considerado o “Pai da Anatomia", publicasse seu histórico livro "De Humani Corporis Fábrica" em 1543, o que revolucionaria a medicina da época.

O grande “artista-anatomista” desvendava os detalhes da beleza e complexidade do corpo humano e traduzia - em desenhos, gravuras, esquemas e pinturas - a mais bela obra de arte divina: cada um de nós. Ele misturou as artes plásticas com arte médica e utilizando técnicas da arquitetura, engenharia, do desenho técnico. Foi um visionário em vários aspectos, e com certeza, um indivíduo que vislumbrava além de seu próprio tempo. Sua genialidade atemporal inspira a todos nós, pois além de decorar a anatomia, podemos apreciá-la como obra de arte.

Se você quer saber mais sobre este artista da anatomia recomendamos o livro “Cadernos anatômicos de Leonardo da Vinci”. 

Recomendamos também o aplicativo disponível na appstore da Royal Collection, uma exposição  sobre Da Vinci no The Queen’s Gallery, Buckinghan Palace. Neste app você pode interagir com as 268 obras expostas, e com a tradução dos textos para o inglês. Para quem não pode baixar o aplicativo, todas as figuras estão disponíveis no site da exposição (http://www.royalcollection.org.uk/). Estas gravuras foram adquiridas pela família real inglesa no século 17, mas apenas em 1900, elas seriam “redescobertos”.

Citações:

Segundo o professor de cirurgia plástica e reconstrutiva na Universidade de Manchester, Gus McGrouther, “Comparados às ilustrações de 'Gray’s Anatomy' [livro clássico do estudo da anatomia], feitas no início do século 19, as ilustrações de Da Vinci transmitem mais vida e uma compreensão melhor do assunto”

“Com seus estudos anatômicos, Leonardo da Vinci ultrapassou os conhecimentos dos artistas de sua época, pois, ao observar o interior do corpo humano, viu de perto as características dos seus músculos e dos seus órgãos vitais, e mais ainda, tentou e conseguiu entender e dar explicações lógicas sobre os seus movimentos, sobre as suas ações e sobre as suas funções”, explica o cirurgião do coração Pedro Carlos Piantino Lemos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que traduziu o livro do inglês para o português, em parceria com a tradutora Maria Cristina Vilhena Carnevale.

“Leonardo é tido como uma exceção entre os artistas que se propuseram a explorar a anatomia humana. Partiu dele, a primeira descrição, observada em uma dissecação, de uma aterosclerose – o entupimento de uma artéria em decorrência do acúmulo de gordura.” Cadernos anatômicos de Leonardo da Vinci.

”Embora fosse fundamentalmente um artista, [Leonardo] considerava a anatomia como sendo algo mais que simples coadjuvante da arte. Essa atitude o levou a prosseguir com seus estudos, de tal maneira que seus conhecimentos anatômicos ultrapassaram aqueles que seriam suficientes para desempenhar sua arte” Cadernos anatômicos de Leonardo Da Vinci

“O livro [de Leonardo] é uma contribuição fundamental para a compreensão do desenho como meio de conhecimento, uma ferramenta de construção do pensamento visual”, avalia a professora Lygia Arcuri Eluf, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. “Leonardo da Vinci é um grande precursor de um período bastante interessante da história do mundo ocidental, conhecido no campo das artes como ‘maneirismo’, no qual parece que todas as possibilidades de um mundo novo se abrem para os artistas.”

Em uma nota que acompanhava um desenho de uma vértebra cervical estava escrito: “Esta representação é tão importante para o bom desenhador como a derivação das palavras latinas para os gramáticos, pois aquele que ignora quais são os músculos que produzem este ou aquele movimento desenhará mal os músculos das figuras nos seus movimentos e ações.”

Fontes:

 


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