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O exercício da incerteza, por Drauzio Varella

O exercício da incerteza, por Drauzio Varella
Caroline Ahrens Ortolan
mar. 20 - 4 min de leitura
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No meu aniversário deste ano ganhei de presente de uma amiga muito querida a mais recente obra escrita por Antônio Drauzio Varella, um dos mais conhecidos e bem-quistos médicos brasileiros. Profissional que, no auge dos seus quase 80 anos, ainda faz atendimentos para pacientes carcerários, trabalha diariamente na divulgação de informações sobre saúde pelas redes sociais e – pasmem! – ainda corre maratonas.

O autor inicia a escrita descrevendo a noite em que recebeu a notícia de que havia sido aprovado no vestibular de Medicina. A partir de então, Drauzio segue recordando acontecimentos de sua vida pessoal e profissional em um vai e vem temporal, passando pela imigração de sua família ao Brasil, o nascimento dele e de seus irmãos, o adoecimento de sua mãe por miastenia gravis (o oitavo caso registrado no Brasil), a vida após seu falecimento, as brincadeiras de infância...

Ao longo de sua narrativa, o médico teve o cuidado de inserir curiosidades sobre a história das ciências e da Medicina, todas muito interessantes e contadas muitas vezes com uma pitada de humor. Além disso, ele trouxe as percepções de como foi ser estudante e médico durante os anos de ditadura, ver a ascensão da epidemia de HIV, a criação do SUS, a implementação dos medicamentos quimioterápicos e o início de sua carreira como médico voluntário de prisões, melhor retratada em outra obra, “Estação Carandiru”.

Drauzio foi professor de um cursinho pré-vestibular enquanto cursava Medicina. Não somente professor, mas ele e um amigo fundaram um curso preparatório de muito sucesso, acontecimento que ele julga ter sido imprescindível para o desenvolvimento de suas habilidades de comunicação. Além disso, ao longo de sua trajetória profissional, o médico participou como fundador e coordenador do Projeto Rio Negro, atualmente Projeto de Pesquisa de Produtos Naturais, que visa estudar a atividade farmacológica de plantas amazônicas.

Ao longo da obra, o oncologista também relata o crescimento da utilização da biotecnologia nas ciências da saúde; papel crucial que a genômica tem no entendimento das doenças e em seu correto tratamento; homenageia os profissionais da enfermagem; descreve as sensações que teve ao adoecer por febre amarela; e debate sobre diversos dilemas éticos que perpassam a nossa profissão. Por fim, Drauzio registra os fatos que permearam os últimos anos no que diz respeito ao combate à pandemia de Covid-19.

O livro “O exercício da incerteza – memórias” caiu como uma luva para o início do meu último ano do curso de Medicina. Repleta de inseguranças, dúvidas e medos, conhecer um pouco mais sobre a trajetória de um profissional tão renomado (e de suas angústias) me fez realizar que estou no caminho certo. Como disse William Osler, “a medicina é uma ciência da incerteza e uma arte da probabilidade”. Eu diria também que, além disso, é a arte da humildade, do cuidado, da sensatez e da dedicação.

Ao escrever sobre o sentimento de culpa e insuficiência que rodeia os travesseiros de médicos – “se eu tivesse solicitado tal exame/ prescrito tal remédio/ adiado tal cirurgia, talvez meu paciente não tivesse morrido” – Drauzio completa: “O conhecimento e a experiência aumentam a complexidade das escolhas, as inseguranças, as divergências e as incertezas inerentes a elas. Quanto mais velho e experiente fico, mais dúvidas carrego”.

Termino este texto com uma recomendação: ao ler “O exercício da Incerteza”, não busque ter pressa ou certezas. Leia, releia, questione, grife, anote, feche o livro, digira as informações e reflexões, volte a ler. Após tê-lo lido, tenho toda a certeza (ou incerteza?) de que serei uma eterna estudante de Medicina, estudante de vida, estudante de histórias.




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