Este artigo faz parte da série "Virtudes Médicas" publicado pela primeira vez na Academia Médica em janeiro de 2015.
Edmund Pellegrino afirmava que:
“Phronesis era o termo que Aristóteles utilizava para a virtude da Sabedoria Prática, a capacidade de intuição moral, a capacidade – em uma circunstância específica – de discernir qual escolha moral ou curso de ação conduzirá melhor ao bem do agente ou da atividade na qual o agente encontra-se comprometido. Phronesis é a virtude intelectual que nos predispõe a buscar a verdade em prol da ação, oposta à busca da verdade em prol dela mesma, o que constitui a sabedoria especulativa ou sophia.”[1]
A prudência é mediadora entre todas as demais virtudes na busca ativa de executar um bem[2]. Como balancear a beneficência com a autonomia? Utiliza-se a prudência. O quão justo, corajoso, humilde, compassivo e bondoso se deve ser? A prudência ajuda a tomar o “caminho do meio”, ajuda-nos a não desviar nem para a direita e nem para a esquerda.
Na Medicina a prudência irá auxiliar sobremaneira o raciocínio clínico e o plano terapêutico. É a prudência que equilibrará a compaixão subjetiva e a equanimidade objetiva. É a prudência que nos auxilia a contar uma notícia trágica, a comunicar a morte de um ente querido, a anunciar o fim das capacidades da medicina, de nossa inteligência e de nossa tecnologia. É ela que nos ajuda a dosar a quantidade e a temperatura da informação dada a cada momento.
Ao pesar o risco de uma terapia e seus benefícios contra o risco de se deixar uma doença seguir seu curso e ao se considerar o quanto de qualidade de vida será comprometida com determinado curso de ação, a prudência será a haste da balança.
Na tríade do erro médico, a imprudência arrasta os outros dois quesitos. Um médico imprudente tomará a conduta errada mesmo que tenha o conhecimento adequado e mesmo que queira ajudar o paciente. Um médico imprudente ousará ir além do limite permitido por seu conhecimento e seus estudos e práticas, prejudicando o paciente. Um médico imprudente, por fim, agira de forma negligente, deixando de utilizar seu conhecimento e sua técnica para realizar o bem a seu paciente[3].
Se há uma virtude que “tempera” todas as demais, esta virtude é sem dúvida nenhuma a prudência.
Referências
- [1] PELLEGRINO, Edmund. The Virtues in Medical Practice. Oxford: Oxford University Press, 1993.
- [2] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução do grego de António de Castro Caeiro. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009.
- [3] CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. A Medicina para além das normas: Reflexões sobre o novo Código de Ética Médica. Nedy Neves (Org.). Brasília: Conselho Federal de Medicina, 2010.
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