A pandemia da COVID-19 acelerou uma tendência que já vinha se desenhando em diversas profissões, incluindo o campo científico: o trabalho híbrido. Esta modalidade permite que profissionais dividam seu tempo entre o laboratório ou escritório e o trabalho remoto, de casa. Enquanto alguns aspectos da vida científica, como experimentos em laboratório ou pesquisas de campo, exigem presença física, atividades como a análise de dados e a escrita de artigos podem ser realizadas de qualquer lugar. Esta flexibilidade trouxe à tona uma questão crucial: como o trabalho híbrido afeta a produtividade, a criatividade e a colaboração na ciência?
Estudos recentes apontam para um cenário complexo. Por um lado, trabalhadores remotos relatam maior satisfação e produtividade. Por outro, evidências sugerem que equipes que trabalham presencialmente tendem a produzir resultados mais inovadores e de maior qualidade. Isso coloca em destaque a importância de entender as implicações do trabalho híbrido e de buscar maneiras de otimizar tanto a conexão quanto a criatividade nesse novo normal.
A colaboração à distância, embora não seja uma novidade para os cientistas, apresenta desafios significativos, especialmente quando depende excessivamente de tecnologias de comunicação em detrimento das interações presenciais. Estudos indicam que o trabalho remoto pode alterar a natureza e a qualidade das pesquisas produzidas, com equipes remotas tendendo a fazer avanços incrementais, enquanto colaborações presenciais são mais propensas a gerar descobertas revolucionárias. A falta de encontros espontâneos e a comunicação mais estruturada e hierarquizada online podem limitar o intercâmbio de ideias e a intensidade da colaboração, elementos cruciais para a inovação.
No entanto, há sinais de otimismo. Pesquisas revelam que, após 2010, trabalhos científicos realizados por colaboradores remotos começaram a apresentar maior probabilidade de conter descobertas inovadoras, sugerindo que as tecnologias de compartilhamento de arquivos e a maior exposição a diferentes conjuntos de conhecimentos podem estar começando a compensar algumas das desvantagens do trabalho remoto.
Para maximizar os benefícios do trabalho híbrido na ciência, é fundamental adotar estratégias que promovam a interação e a colaboração efetiva, tanto online quanto presencialmente. Isso inclui o uso de tecnologias que facilitam a comunicação síncrona e a troca de ideias, bem como a organização de encontros presenciais regulares para fortalecer laços e fomentar a criatividade coletiva. Além disso, é essencial reconhecer e abordar os desafios específicos que o trabalho remoto impõe à comunicação informal e às oportunidades de aprendizado cruzado, especialmente para cientistas em início de carreira.
Referência:
Adam, D. (2024, March 4). What science says about hybrid working — and how to make it a success. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00643-2