A obesidade sarcopênica (OS) é uma condição clínica que vem ganhando atenção na área médica devido à sua complexa interação entre obesidade e redução da massa e função muscular. Um estudo publicado JAMA Network Open em 14 de junho de 2024, explora a prevalência e as consequências da OS em pacientes com câncer, oferecendo insights para a prática clínica e a pesquisa médica.
A sarcopenia, tradicionalmente associada ao envelhecimento, tem sido observada cada vez mais em pacientes mais jovens, especialmente naqueles com doenças crônicas. Este fenômeno se agrava em pacientes com câncer, onde a inflamação induzida pelo câncer promove o catabolismo muscular e altera o metabolismo energético, contribuindo para a sarcopenia, que por sua vez está ligada a uma qualidade de vida reduzida e a resultados clínicos negativos, como uma maior incidência de efeitos tóxicos severos da quimioterapia.
Por outro lado, a obesidade foi identificada como um fator de risco aumentado para o desenvolvimento de câncer. Curiosamente, alguns estudos sugerem que um índice de massa corporal (IMC) elevado pode estar associado a melhores resultados em pacientes com câncer. No entanto, a combinação de obesidade com baixa massa muscular consistentemente mostra um impacto negativo na sobrevivência dos pacientes.
📉 O gráfico mostra através das curvas de Kaplan-Meier, a sobrevida global dos pacientes, estratificados de acordo com a presença de obesidade sarcopênica:
Fonte: Liu C, Liu T, Deng L, et al.,2024
Em resposta a essa condição emergente, em 2022, a European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) e a European Association for the Study of Obesity (EASO) iniciaram esforços para estabelecer um consenso sobre a definição e critérios diagnósticos para OS, com o objetivo de melhorar a triagem, o diagnóstico e a estratificação da condição.
Este estudo multicêntrico prospectivo analisou 6790 pacientes com câncer, identificando uma prevalência de OS de 4,36% na coorte total, que aumentou para 14,98% entre os pacientes obesos. A prevalência de OS variou significativamente com o tipo de câncer, sendo mais comum entre pacientes com câncer de mama, pulmão e colorretal.
📉 Abaixo, é possível vizualizar a associação entre sarcopenia, obesidade e os desfechos clínicos, estratificando os dados por sexo:
Fonte: Liu C, Liu T, Deng L, et al.,2024
A pesquisa revelou que a definição e o diagnóstico de OS ainda são desafios devido à falta de padronização, o que resulta em uma grande variabilidade nas taxas de prevalência relatadas. A utilização do algoritmo ESPEN-EASO mostrou-se eficaz em identificar pacientes com risco aumentado de desfechos adversos, especialmente aqueles com cânceres de pulmão, colorretal e pancreático.
É interessante notar que a força de preensão manual (HGS) foi um componente crucial para o diagnóstico de OS, sendo associada de forma independente a uma menor sobrevida global (OS), enquanto a associação com a massa muscular não foi observada consistentemente.
Estas descobertas enfatizam a relevância de uma avaliação regular e rigorosa para OS em pacientes com câncer, utilizando o algoritmo ESPEN-EASO como uma ferramenta potencialmente eficaz na prática clínica. A implementação de critérios diagnósticos otimizados poderá aumentar a precisão na detecção da SO, melhorando assim o manejo e os resultados clínicos para essa população vulnerável.
Referência:
Liu C, Liu T, Deng L, et al. Sarcopenic Obesity and Outcomes for Patients With Cancer. JAMA Netw Open. 2024;7(6):e2417115. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.17115