Desde as primeiras publicações, feitas pelo Ministério da Saúde, que dispõem sobre o cadastramento de alunos dos cursos da área de saúde, incluindo estudantes de medicina, no Programa “O BRASIL CONTA COMIGO”, que visa o enfrentamento da pandemia COVID-19, discute-se acaloradamente sobre benefícios e malefícios relacionados a formação médica, em especial para acadêmicos do 6° ano ou último período.
Perguntas relacionadas às competências necessárias para formação antecipada, disponibilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todos, necessidade de preceptoria, bonificação nos Programas de Residência, permanência ou mudança nos calendários acadêmicos, permanência ou mudança das datas de provas de residência, dentre muitas outras questões, vêm sendo retomadas e revogadas constantemente.
Eu, como acadêmica do último período, sofro na pele com toda essa “infoxicação” e nesse cenário de incertezas com baixas expectativas de mudanças me pergunto: como os acadêmicos se sentem frente à toda essa M.U.V.U.C.A.? Em especial, os internos de 6° ano que estavam à poucos passos de ter em mãos o tão almejado CRM.
O termo V.U.C.A., muito empregado no meio corporativo e de tecnologia, é um acrônimo, derivado do inglês, para descrever quatro características marcantes do mundo 4.0 em que estamos vivendo: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, principalmente ao que cerne previsibilidade nos planejamentos.
Ao empregá-lo como M.U.V.U.C.A., proponho um novo olhar para esse circunstância relacionada ao coronavírus. Um olhar que saiba lidar com as mudanças e dinamicismo que elas exigem.
O prefixo M.U. provém do M, do inglês MEANINGFUL, que agrega uma busca de propósito ao que fazemos, e U de Universalidade, onde precisamos analisar o impacto de nossas decisões num aspecto mais amplo.
Desta forma, fica evidente que cada um de nós precisa encontrar um MEANINGFUL, um intuito para lidar com toda essa situação, até mês passado, incomum no nosso dia a dia.
O objetivo deste texto não é fornecer dicas ou estruturar ferramentas de auto-ajuda, é compartilhar com você, leitor, o intuito que eu encontrei para mim no meio de todo caos que medeia a conjectura médica: trabalhar a inteligência emocional.
A inteligência emocional é definida como a capacidade de identificar e gerenciar as emoções, próprias e de outras pessoas, para orientar o pensamento e as ações.
Pesquisas apontam que o profissional do futuro (leia-se HOJE) será mais bem avaliado por sua habilidade de QE (Quociente emocional) do que de QI (quociente intelectual). A demanda por habilidades interpessoais fará com que o mercado de trabalho opte por competências comportamentais em detrimento de uma competências técnicas, já que a segunda pode ser obtida ou aprimorada através de treinamento direcionado. Desse modo, pessoas com melhor know-how emocional serão mais bem sucedidas no mercado de trabalho.
A inteligência emocional é construída sobre quatro pilares: autoconhecimento, autogestão, empatia e gestão de relacionamentos. O autoconhecimento e a autogestão são competências pessoais, já a empatia e a gestão de relacionamentos dizem respeito a como lidar com terceiros, ou seja, competência social.
Também existem ramificações inseridas em cada uma dessas divisões que totalizam 12 competências necessárias para gerar um excelente QE:
Autoconhecimento;
Gestão das emoções;
Adaptabilidade;
Resolutividade;
Otimismo;
Empatia;
Consciência organizacional;
Influência;
Coach e mentor;
gestão de conflitos;
trabalho em equipe;
liderança inspiracional.
É fato que pessoas com maior autocontrole emocional e comportamental possuem maior controle sobre as demandas de seu ambiente e também maior confiança para o novo.
Na medicina, estudos constataram que uma boa inteligência emocional tem sido associada a um maior bem-estar emocional e melhor desempenho acadêmico entre universitários, melhor relação médico-paciente, melhora do trabalho em equipe, melhora da comunicação de más notícias, além de melhorar o gerenciamento do estresse, a priorização de atividade e as habilidades de liderança.
Acredito ser esse um momento oportuno para trabalhar e desenvolver competências relacionadas à inteligência emocional, criando uma forma de não apenas lidar com situação adversas, como também aprender com elas, contar consigo mesmo!
E você? Qual o seu MEANINGFUL?
Referências
- Johnson D. R. (2015). Emotional intelligence as a crucial component to medical education. International journal of medical education, 6, 179–183.
- Dolev, N., Goldental, N., Reuven-Lelong, A., & Tadmor, T. (2019). The Evaluation of Emotional Intelligence among Medical Students and Its Links with Non-cognitive Acceptance Measures to Medical School. Rambam Maimonides medical journal, 10(2), e0010.
- Wood, T. J., Humphrey-Murto, S., Moineau, G., Forgie, M., Puddester, D., & Leddy, J. J. (2020). Does Emotional Intelligence at medical school admission predict future licensing examination performance?. Canadian medical education journal, 11(1), e35–e45.
- Bin Dahmash, A., Alhadlaq, A. S., Alhujayri, A. K., Alkholaiwi, F., & Alosaimi, N. A. (2019). Emotional Intelligence and Burnout in Plastic Surgery Residents: Is There a Relationship?. Plastic and reconstructive surgery. Global open, 7(5), e2057.
- Goleman, D. Inteligência Emocional. A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, Tradução revista em 2001 do original 1995.
- Figura
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