Em abril de 2022, a ASCO (American Society of Clinical Oncology) emitiu uma opinião clínica provisória sobre a integração da genômica somática na rotina clínica de pacientes com tumores sólidos metastáticos ou avançados. A opinião, publicada no Journal of Clinical Oncology, ressalta a evolução dos testes genômicos na prática oncológica e como um amplo espectro de pacientes com câncer pode se beneficiar desses avanços.
De acordo com o Dr. Funda Meric-Bernstam, co-presidente do Painel de Especialistas, essa orientação é muito oportuna, pois nos últimos anos houve um grande interesse na oncologia sobre o papel dos testes genômicos, suas indicações, tipos de testes e seu valor agregado além das doenças com terapias já vinculadas a biomarcadores específicos.
O Painel de Especialistas revisou as combinações de testes e terapias aprovadas, os dados disponíveis sobre a prevalência de marcadores e opiniões de especialistas para formular a opinião clínica provisória. Embora evidências de Nível I ainda sejam escassas, várias terapias vinculadas a biomarcadores genômicos já foram aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration).
O co-presidente do Painel de Especialistas, Dr. Mark Robson, enfatizou a importância de incluir os testes genômicos na rotina clínica para pacientes com tumores sólidos avançados. Ele sugere que os oncologistas utilizem testes de painel multigênico em vez de avaliações biomarcadoras específicas ou 1:1. Essa abordagem deve fazer parte da caracterização do tumor do paciente, mesmo que nem sempre tenha impacto terapêutico imediato, pois há casos em que isso pode ser relevante.
No entanto, é importante ressaltar que nem todos os pacientes se beneficiarão dos testes genômicos somáticos. Por exemplo, pacientes com doença metastática e baixa probabilidade de terem biomarcadores genômicos vinculados a medicamentos aprovados e que não têm acesso a ensaios clínicos apropriados podem não se beneficiar.
A opinião clínica provisória também aborda os prós e contras do uso de terapias vinculadas a biomarcadores quando a aprovação do FDA se baseia em um único resultado de teste genômico e como os oncologistas devem interpretar esses testes, considerando que nem todas as alterações são equivalentes.
Os desafios na implementação dessas recomendações incluem o entendimento da aplicabilidade dos testes genômicos e a interpretação dos resultados, o que pode ser complicado devido à rápida evolução dessa área. Assim, os clínicos devem estar atentos às áreas de pesquisa emergentes e, sempre que possível, inscrever pacientes em ensaios clínicos dirigidos por biomarcadores em vez de buscar o uso off-label de agentes direcionados por conta própria.
A opinião clínica provisória da ASCO representa um passo significativo para avançar no campo da oncologia, incentivando a adoção de testes genômicos somáticos na prática clínica. A falta de ensaios clínicos randomizados (RCTs) que abordem o impacto da genômica na oncologia como um todo tem dificultado o progresso nesta área. No entanto, essa opinião clínica provisória busca fornecer orientações e esclarecimentos para oncologistas sobre como melhor incorporar a genômica em seu atendimento aos pacientes.
Além disso, o Painel de Especialistas enfatiza a importância de áreas emergentes de pesquisa, como a avaliação do status de deficiência de reparo de desajuste (dMMR) em pacientes com doença metastática ou avançada que são candidatos à imunoterapia, bem como a relevância de alterações no "exon-skipping" em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas.
Outra área promissora no desenvolvimento terapêutico é o direcionamento de fusões gênicas. Dr. Meric-Bernstam destaca que os testes de fusão podem ter valor em diferentes tipos de tumores, mas a frequência dessas fusões varia de acordo com a doença. Em casos onde fusões são comuns, como no câncer de pulmão, é essencial que os médicos saibam se o teste genômico inclui um painel de fusões.
A interpretação dos testes genômicos também pode ser desafiadora. É fundamental não apenas entender como uma alteração genômica afeta a função do gene, mas também se a alteração é conhecida por afetar a sensibilidade ou resistência a medicamentos naquele cenário clínico. Assim, os clínicos devem ser cautelosos ao utilizar terapias off-label e buscar, sempre que possível, a inclusão de pacientes em ensaios clínicos guiados por biomarcadores.
Em suma, a opinião clínica provisória da ASCO representa uma etapa importante no avanço do uso de testes genômicos somáticos na prática clínica para pacientes com tumores sólidos avançados. Através desta orientação, os oncologistas poderão desenvolver um melhor entendimento da genômica e aplicá-la de forma mais eficaz no tratamento de seus pacientes, abrindo caminho para novas descobertas terapêuticas e prognósticas.
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Referência:
Chakravarty D, Amber Johnson A, Sklar J, et al. Somatic Genomic Testing in Patients with Metastatic or Advanced Cancer: ASCO Provisional Clinical Opinion. J Clin Oncol. Publicado em 17 de fevereiro de 2022.