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Os caminhos da Medicina

Os caminhos da Medicina
Leinyara Benites
fev. 10 - 4 min de leitura
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Acredito que o ser humano está sempre em construção. As experiências vividas, sejam elas positivas ou negativas, são os combustíveis dessa composição maravilhosa chamada vida. Assim, quando nos decidimos pelo curso de medicina, na maioria das vezes, é porque queremos uma profissão na qual podemos fazer a diferença na vida dos pacientes e também podemos ter uma boa remuneração financeira, com a liberdade de trabalhar em ambiente hospitalar, ambulatorial, cirúrgico, e por aí vai.

Nesse sentido, dias atrás pude acompanhar uma ótima discussão em uma rede social sobre a falta de empatia dentro da medicina e como as transformações tecnológicas vão exigir mais humanidade dos médicos. Um dos participantes fez uma excelente colocação, se perguntando como um discente de medicina chega à faculdade tão cheio de sonhos e compromissos com a vida humana ao entrar no curso, porém, no terceiro ano simplesmente se torna tão insensível aos pacientes e suas necessidades. Achei o tema pertinente num momento como o que estamos vivendo: a população exige do médico uma postura mais humana.

Diante disso, pude refazer mentalmente meu caminho dentro da universidade. Quando o estudante de medicina entra no curso, há uma carga elevada de matérias relacionadas às humanidades, interligadas com ciências biológicas. Em geral, são ministradas por diferentes profissionais na área de saúde, esse contato multiprofissional é construtivo para o recém-ingresso, que tem a impressão de que mudar o mundo ao seu redor será possível e fácil.

Entretanto, no ciclo clínico, os alunos começam a ter aulas mais relacionadas às especialidades médicas, tendo contato com professores formados em medicina. O que mais se vê é o contraponto entre o que foi visto nos anos anteriores e a postura de alguns desses professores. Quando observamos o relacionamento médico-paciente desses profissionais, percebemos algo alarmante: estão inspirando seus alunos a serem muito técnicos e pouco empáticos, tanto quanto eles. Certa vez, perguntei a um professor como ele escolheu sua residência médica, era uma pergunta que eu sempre fazia, pois queria saber o que levar em consideração. Ele me respondeu da seguinte forma: “escolhi essa área depois de perceber que eu não seria o próximo Carlos Chagas”. Essa resposta acabou ruindo certas expectativas em mim, fiquei com um sentimento de que a medicina seria uma caixa onde algo novo nunca pudesse sair.

Para completar, quando o discente é inserido nos ambientes hospitalares, em especial no Sistema Único de Saúde, a realidade dura e fria de falta de condições de bom atendimento, falta de estrutura e má remuneração dos hospitais brasileiros acaba fazendo o estudante perceber que a profissão médica passa por um momento de fragilização. Ou seja, a medicina não é um bilhete de loteria premiado, a medicina é sofrida, provoca cicatrizes em quem a exerce. No internato e na fase de médico recém-formado, a situação piora ainda mais com o excesso de carga horária enfrentada. Daí surgem problemas como depressão, burnout, aumento da taxa de tentativa e consumação de suicídios em nossa categoria, graças a um sentimento de frustração crescente que tem tomado conta dos egressos.

Por isso, aprendi que sempre devemos fazer um reexame do que nos tornamos e do que gostaríamos de ser lá no começo da carreira. Você não precisa se contentar em fazer parte da caixa chamada medicina, inove, sonhe, preste um bom serviço, se encante de novo com a profissão, veja como o futuro irá transformá-la. Geste sonhos novamente, seja curioso, não se contente com o que tem agora, queira mais. Seja mais. Assim, sem perceber, você estará inspirando as pessoas ao seu redor, sendo um veículo de mudanças – nem que sejam pequenas. Lembre-se: você está sempre em construção, as experiências vividas, sejam elas positivas ou negativas, são os combustíveis dessa composição maravilhosa chamada vida.

 


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