Uma das coisas mais fascinantes na medicina é que entramos em contato com a imensidão que é o ser humano e também com a extrema complexidade da sua ligação entre corpo e cérebro. Apesar de muito se saber a respeito do homem e de sua saúde, acredito que o que avistamos é, ainda, apenas a ponta de um iceberg.
Submerso num mundo ainda desconhecido pela ciência, está o efeito placebo. Um fenômeno quase que sobrenatural que acontece quando um paciente toma, por exemplo, pílulas que não têm nenhum efeito conhecido sobre sua doença atual e, mesmo assim, o levam a alcançar a cura.
O placebo ainda não foi bem entendido pela medicina, mas sua existência é comprovada e irrefutável. Sua existência faz parte da arte médica, e, segundo o Dr. Dike Drummond, ele advém principalmente da relação entre médico e paciente, faz parte da arte de curar, de despertar nas pessoas o desejo da cura. Ele acrescenta ainda que a crescente epidemia de fadiga que os médicos vêm sofrendo, o burnout, é um perigo para a profissão pois impede que essa conexão fiel entre médico e paciente seja estabelecida a contento, diminuindo suas chances de obter sucesso em um tratamento.
Da relação de confiança estabelecida, provém parte do alívio. Ao estar nas mãos de alguém que o possa ajudar a melhorar seu bem-estar, ele transfere para o médico a responsabilidade sobre seu tratamento. Médicos que são mais empáticos conseguem criar esse sentimento em seus pacientes e é essa a parte em que nos tornamos artistas, pois este é um processo de approaching muito elaborado que começa no primeiro contato olho no olho e não deveria terminar jamais. Esta é uma característica da nossa profissão que jamais poderá ser substituída por aparelhagens tecnológicas. É um atributo humano incomparável.
Há quem discorde e acredite que o efeito do placebo pode residir na matéria em si, ou seja, no comprimido que o paciente toma.
Estudos mostram que pílulas menores funcionam melhor como placebo do que pílulas maiores. E que cápsulas funcionam melhor ainda. Injeções são ainda mais poderosas do que as cápsulas e a utilização de grandes máquinas de terapia - ao modelo das máquinas de radioterapia - podem fazer um efeito placebo maior ainda.
Dessa forma, há quem se pergunte se um dia poderemos utilizar de programas de computador ou máquinas para estimular esse efeito em nossos pacientes. Eu, pessoalmente, acredito que a maior ferramenta que pode levar à cura sem o uso de medicações já nos foi descoberta e não tem custo nenhum: empatia e cuidado adequado, algo que os médicos não podem deixar de lado, nunca.
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