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Pandemia de Covid, epidemia de um tanto mais... do que você está “morrendo”?

Pandemia de Covid, epidemia de um tanto mais... do que você está “morrendo”?
Mayara Pinheiro Rodrigues Lucena
out. 26 - 3 min de leitura
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Engana-se quem pensa que a COVID-19 trouxe adoecimento e sequelas exclusivamente físicas. Tosse, coriza e falta de ar são apenas os sintomas visíveis. Porém, escondido por detrás de todo esse panorama de caos na saúde pública, encontra-se um outro inimigo invisível que vem, sorrateiramente, instalando uma epidemia de um tanto mais e enchendo os consultórios numa mesma proporção que os sintomáticos respiratórios. 

Diariamente, observo a exagerada ascensão dos transtornos psicológicos, da ansiedade e dos ataques de pânico. Uma epidemia de medo excessivo vem tomando espaço, seja o medo da morte, seja o medo da perda, seja o medo do companheiro. A sequela mais impactante da cronificação do Coronavírus nem de longe é a tosse persistente. O desdobramento que mais assola os indivíduos é a sequela emocional. 

Incontáveis são as histórias trágicas e comoventes. Pessoas que perderam seus familiares, pessoas que viram a morte cara a cara, pessoas que sorriram na foto com a plaquinha “venci o Covid”. Pessoas que perderam seus empregos, pessoas que fecharam seus negócios, pessoas que se reinventaram e aprenderam um novo ofício. Ademais, as pesquisas mostram um exponencial aumento no número de divórcios e, paralelamente, um crescimento exorbitante da violência doméstica. 

De uma forma ou de outra, as pessoas estão sofrendo. Estão adoecendo. Estão exaustas. Ou será que já estavam?

São tantos os desdobramentos que um turbilhão de pensamentos se misturam na minha mente e seriam necessárias várias linhas escritas para tentar deixar o pensamento coeso. Tantas reflexões ao mesmo tempo, mas a pergunta que paira na minha mente é se alguém sairá ileso. 

Poderíamos falar sobre o isolamento social, poderíamos conversar e levantar a bandeira da violência doméstica, poderíamos refletir sobre o uso indiscriminado de benzodiazepínicos, poderíamos procurar soluções e tratamentos alternativos para os transtornos de ansiedade. Poderíamos gritar aos quatro cantos sobre formas de prevenir o suicídio.

Mas não, estamos apenas prescrevendo... 

Continuamos perdendo mais tempo postando nossas rotinas na academia e lotando boxes de Crossfit, como se já não carregássemos peso em demasia. Continuamos dando vazão para a vida de famosos e sobre quem separou de quem, enquanto a vizinha com 3 filhos sofre por um divórcio desencadeado por uma agressão. 

Continuamos fechando os olhos para uma epidemia que reverbera há anos, mas que seu grito intensificou ferozmente agora...

Será que medicalizar é a saída? Receitar psicotrópicos como dipirona torna tudo mais fácil ou apenas mascara uma realidade cruel? Será que estamos apenas dopando uma sociedade adoecida? Negligenciarmos as dores dos outros, mesmo que desconhecidos, é menos doloroso para nós? Será que estamos nos calando? Nos omitindo? Nos escondendo? 

Qual o nosso papel enquanto cidadãos? 

Convido todos a refletirem sobre o exercício de sua cidadania, pois jamais teremos uma vacina capaz de transformar quem somos. Espero que a nossa luta por pessoas saudáveis física, psicológica e socialmente seja intensa e incansável. Que possamos combater, na linha de frente, todas as outras mazelas humanas: a corrupção, a pobreza, o desemprego, o preconceito, a violência em todas as suas formas. Percebam: a doença na alma também tira o ar, o brilho, a vida. Enfim, que sejamos muito além de espectadores ou ouvintes, mas que sejamos ativos e militantes em prol de um mundo são.

 

 

 

 

 


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