Seguindo com as publicações sobre as virtudes do médico, o Dr Hélio Agotti demonstra a virtude da Temperança. Não esqueça de ler os outros textos da série "Virtudes Médicas".
Temperança
É a arte do autocontrole, da busca pelos prazeres ditos do espírito e não do físico, sabendo que em última instância, este se beneficiará muito mais daquele. Seu papel lembra em grande parte a virtude da Prudência, mas apresenta especificidades interessantes para o médico moderno.
É a arte de evitar excessos ou faltas, é a arte de viver de forma inteligente. É no cotidiano evitar os vícios que podem destruir a carreira e prejudicar a capacidade de beneficiar o paciente.
Isso inclui coisas óbvias desde evitar tomar um porre na véspera do plantão no Centro Cirúrgico até o exercício da modéstia cautelosa em grandes cirurgias plásticas nas quais alguns pacientes podem nutrir expectativas irreais.
Os antigos sabiam que a busca pela saúde é também uma busca moral, uma busca pela vida correta. Nas Dietas e Regimes prescreviam-se não somente fármacos terapêuticos, mas também condutas e virtudes a serem praticadas para a boa vida.
Uma situação que logo vem à mente é a tentação de brincar de Deus, de negar a vida ao bebê no útero materno, de apressar a morte de forma indevida, de legislar sobre o que é o ser humano e o que não é de forma arrogante, de ousar encarnar na prática médica um tipo de engenharia do novo homem ou do super-homem ideológico, alterado tecnológica e geneticamente.
A temperança ajuda a evitar o abuso de tratamentos dispendiosos e inúteis para o paciente, a temida obstinação terapêutica. A temperança ajuda a evitar danos ao paciente ao exagerar na mão durante procedimentos, causando a temida Iatrogenia.
Por fim, a Temperança está colada às demais virtudes de forma semelhante à Prudência, aconselhando o bom e velho “caminho do meio” que Aristóteles aconselhou em sua Ética a Nicômaco.
Caminho do meio: condição fundamental para se atingir a felicidade maior, segundo Aristóteles. Em meio à diversidade de maneiras para tocar a vida é normal que busquemos uma melhor forma para vivermos bem e intencionalmente a caminho da felicidade. Seguramente o ser humano se posiciona frente às situações da vida com alguma experiência, dele mesmo ou de alguma pessoa a quem ele creditou como preceptor tácito e segue os ditos e encaminhamentos, podendo ser do meio familiar ou simplesmente um amigo.