O paracetamol (acetaminofeno), considerado há décadas a opção mais segura para aliviar dor e febre durante a gestação, acaba de ter sua segurança questionada. Um estudo conduzido pelo Icahn School of Medicine at Mount Sinai e publicado em BMC Environmental Health revisou 46 estudos envolvendo mais de 100 mil participantes em diversos países.
Os resultados sugerem que o uso de acetaminofeno na gravidez pode estar associado a maior risco de transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) nos filhos.
Principais descobertas do estudo
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Primeira revisão sistemática com padrão ouro em saúde ambiental: a equipe utilizou a metodologia Navigation Guide, que avalia a qualidade das evidências, risco de viés (como falhas de reporte ou dados incompletos) e a força do conjunto de evidências disponíveis.
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Maior robustez nas evidências de melhor qualidade: os estudos considerados mais rigorosos foram justamente os que mais apontaram a associação entre exposição pré-natal ao paracetamol e risco aumentado de TEA e TDAH.
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Possíveis mecanismos biológicos:
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A molécula atravessa a barreira placentária;
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Pode gerar estresse oxidativo,
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Alterar hormônios maternos e fetais,
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Provocar modificações epigenéticas, afetando o desenvolvimento cerebral fetal.
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Impacto em saúde pública: dado que mais da metade das gestantes no mundo utiliza acetaminofeno em algum momento, mesmo um pequeno aumento no risco pode se traduzir em impacto relevante em escala populacional.
O que dizem os pesquisadores
Segundo o Dr. Diddier Prada, MD, PhD, professor assistente em Ciências da Saúde Populacional e Medicina Ambiental no Mount Sinai:
“Nossas descobertas mostram que estudos de maior qualidade tendem a confirmar a associação entre o uso pré-natal de acetaminofeno e aumento de risco de TEA e TDAH. Diante da ampla utilização, mesmo um incremento pequeno no risco pode ter grandes implicações de saúde pública.”
O estudo não prova causalidade direta, mas fortalece a evidência da relação e aponta a necessidade de cautela clínica.
Recomendações e próximos passos
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Uso cauteloso e limitado do paracetamol na gestação, sempre sob supervisão médica;
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Atualização das diretrizes clínicas, equilibrando riscos e benefícios;
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Pesquisa em alternativas mais seguras para manejo de dor e febre em gestantes;
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Educação de pacientes e profissionais de saúde, destacando que a interrupção abrupta do uso sem orientação pode ser prejudicial, já que febre e dor não tratadas também oferecem riscos ao feto.
Com o aumento dos diagnósticos de TEA e TDAH em todo o mundo, o estudo reforça a necessidade de revisar práticas clínicas e de fomentar inovação farmacêutica. Também abre espaço para debates sobre saúde reprodutiva, uso racional de medicamentos e desenvolvimento de terapias seguras durante a gravidez.
Referência:
The Mount Sinai Hospital / Mount Sinai School of Medicine. "A safe painkiller? New research raises concerns about Tylenol’s safety in pregnancy." ScienceDaily. ScienceDaily, 21 August 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/08/250821004246.htm>.