Meus cabelos ainda eram corados, atendia trêmulo. Não conhecia as prescrições, doses, diluições.
O jaleco foi amarelando, as canetas cada vez mais rarefeitas, falhavam.
As mãos suaves, engrossando. A visão já era amparada por óculos.
A fórmica da mesa acumulava décadas de sujeira e ranhuras.
Agora, meus cabelos já eram brancos. As receitas tornaram-se digitais.
Meus dedos já não carregavam a mesma precisão de outrora, minha audição também estava falha.
A luz incandescente tornara-se de LED.
Meus estudos já estavam obsoletos e minha semiologia motivo de chacota.
O que pensei ser saúde, agora era uma nova doença.
A nova saúde é algo que jamais concebi.
Não sou o mesmo médico que fui, e talvez não tenha mais tempo de ser o profissional que sempre almejei ser.
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Passagem do Tempo
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