Em meados de abril até início de maio, quando estávamos vivendo uma espécie de caos no país, com notificação diária de mais de mil mortes por Coronavírus, sem saber até onde essa curva epidemiológica iria, eu comecei a sentir alguns sintomas, como dor de cabeça, no tórax, astenia (fraqueza) e leves episódios de tosse. Será que fui infectado? Naquele momento eu não sabia responder a essa pergunta, porém os sintomas surgiram logo após ter tido bastante contato com minhas cunhadas, que haviam testado positivo para Covid-19, ambas chegaram a internar devido um comprometimento pulmonar >30%, e como estudante de medicina, eu estava acompanhando de perto.
Logo, não pensei duas vezes, fui a unidade de saúde realizar uma consulta e, por protocolo, fui medicado e notificado como suspeita de infecção pelo Sars-Cov-2. Mantive-me em isolamento, fazendo as medicações, tomando uns chás (feito por uma das minhas irmãs que faltou me intoxicar de tanto chá kkkkk), e evoluindo com melhora. Não cheguei a realizar nenhum teste, seja teste rápido ou por técnicas mais avançadas como coleta por swab da nasofaringe, o RT-PCR (Reação em Cadeia de Polimerase com Transcrição Reversa), pois estava reservado somente para casos mais graves devido à escassez de materiais.
Será que realmente tive covid-19 nesse período? A resposta explicarei mais à frente.
Mais ou menos 3 meses após a minha suposta infecção, achando que já estava imune (mesmo sem ter realizado nenhum teste ou qualquer comprovação), viajei a Belém-PA e voltei de viagem sentindo uma coriza, espirrando bastante, mas como tenho sinusite, achei que era apenas mais uma crise, afinal, estava “imune” ao coronavírus. Os sintomas foram piorando, dores de cabeça, fraqueza intensa, febre, e quando percebi, não estava sentindo cheiro e nem gosto (ai me toquei). Como nesse período estava acompanhando duas colegas médicas, relatei a situação e logo iniciaram o tratamento e me pediram pra ficar em isolamento domiciliar (outra vez). Dessa vez, uso de corticoides e analgésicos, associados a vitaminas e reidratação ajudaram a aliviar os sintomas, mas não significativamente. Comecei a sentir desconforto respiratório e o raio-x solicitado mostrava algumas calcificações, o que me deixou preocupado. Então, após 12 dias de sintomas, fiz o teste rápido, que deu IgM positivo e IgG negativo (ou seja, minha infecção era recente e eu estava iniciando minha formação de anticorpos, então na primeira vez que achei que era covid, na verdade não era, pois não havia formado imunidade).
Resumo da ópera: "Quando eu achei que era, não era, e quando achei que não era, era."
Certamente o que eu tive em abril de 2020 foi um quadro gripal ou boa parte dos sintomas eram psicológicos, uma vez que, estávamos (e ainda estamos) no meio de uma pandemia que está causando impactos desastrosos, estava sob pressão familiar devido aos casos recentes acima mencionados, e bastante preocupado, pois nesse período, todo dia havia uma notificação de morte por coronavírus de algum colega médico, feita pelo Conselho Regional de Medicina via facebook. Eu pensava: "se os médicos que estão em lugares com maior suporte estão morrendo, que dirá nesse interior (cidade onde resido)".
O fato é que, esse terror psicológico foi e está sendo vivido por inúmeras pessoas, que, devido ao medo, passaram a viver uma situação de estresse, aumentando níveis de cortisol, reduzindo imunidade e passando a ficar susceptíveis a outras patologias, podendo vir a adoecer e a serem tratados como covid-19 sem uma comprovação laboratorial.
Após piora dos meus sintomas, e a saturação periférica de O2 ter chegado a 91% (normal é acima de 95%), minha médica acrescentou outra medicação (anticoagulante), e alguns dias após comecei a sentir melhoras. Até hoje (mais de 30 dias após), ainda sinto dores torácicas, porém, com pouca frequência.
Por ser estudante de medicina, e ter acompanhado outros casos de coronavírus, percebi que é uma doença extremamente desconhecida, sem seguir um padrão fisiopatológico específico, cujo comportamento depende de inúmeros fatores, desde a imunidade do hospedeiro, até a forma de enfrentamento (início tardio do tratamento, tipos de medicamentos utilizados em determinadas fases da doença). Há diversos estudos ainda em andamento buscando qual melhor tratamento, ou vacina capaz de paralisar essa pandemia. Porém, no momento, ainda sem muitas respostas concretas, mas acredito que em breve teremos.
Há diferença muito grande entre você atender alguém doente e você ser o doente. Quando se está do lado de lá da mesa de atendimento, a sensação de insegurança parece ser inquestionável, e você como profissional da saúde passa a perceber o quão importante é ter empatia, tratar bem os pacientes e passar segurança (lei da transferência e contratransferência entre médicos e pacientes).
Tenho sintomas, o que fazer?
Os sintomas mais comuns da COVID-19 são: febre, cansaço e tosse seca. Alguns pacientes podem apresentar dores, congestão nasal, dor de cabeça, conjuntivite, dor de garganta, diarreia, perda de paladar ou olfato, erupção cutânea na pele ou descoloração dos dedos das mãos ou dos pés. Esses sintomas geralmente são leves e começam gradualmente (1,2)
A primeira ação é buscar auxílio médico o quanto antes. Não fique em casa enquanto a doença progride no seu corpo e não faça automedicação, pois como toda patologia, quanto antes iniciar o tratamento, maior chance de sucesso, e a automedicação pode piorar o quadro de saúde.
Tente manter a calma e evite o pânico ou desespero, afinal, Covid-19 tem diferencial com diversas outras síndromes respiratórias (que podem ser mais leves ou mais graves), e o importante é o diagnóstico correto para tratamento adequado, e o médico é o profissional habilitado para isso, juntamente com toda a equipe de saúde (1,2).
O teste rápido só pode ser realizado após 8 dias de sintomas, devido a detecção de anticorpos ser maior após esse período, reduzindo as chances de falso negativo. Antes de 8 dias de sintomas, a técnica utilizada para detecção do Sars-Cov-2 é a Biologia Molecular (RT-PCR), porém, nem todo lugar dispõe de materiais para realizar e o resultado pode levar dias para chegar. Por isso reforço, busque auxílio médico e siga suas recomendações (1,2).
Em caso de piora dos sintomas, mesmo durante o tratamento, volte com seu médico e relate a sua situação, para que novas medidas sejam tomadas. Além disso, é fundamental manter as medidas de proteção: lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou álcool em gel e cobrir a boca com o antebraço quando tossir ou espirrar (ou utilize um lenço descartável e, após tossir/espirrar, jogue-o no lixo e lave as mãos). É importante se manter a pelo menos 1 metro de distância das outras pessoas. Quando o distanciamento físico não é possível, o uso de uma máscara também é uma medida de proteção. (1,2)
Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações para manejo de pacientes com Covid-19. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/18/Covid19-Orientac--o--esManejoPacientes.pdf
2. OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Folha informativa COVID-19 - Escritório da OPAS e da OMS no Brasil. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19