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Por que 18 de outubro é o “dia dos médicos”?

Por que 18 de outubro é o “dia dos médicos”?
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out. 18 - 5 min de leitura
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Texto de Joffre Marcondes de Rezende

São Lucas, em tela de Velasco (1780-1833), Museu de Arte da Bahia, Salvador.

 

O dia 18 de outubro foi escolhido como “dia dos médicos” por ser o dia consagrado pela Igreja a São Lucas. Como se sabe, Lucas foi um dos quatro evangelistas do Novo Testamento. Seu evangelho é o terceiro em ordem cronológica; os dois que o precederam foram escritos pelos apóstolos Mateus e Marcos.

Lucas não conviveu pessoalmente com Jesus e por isso a sua narrativa é baseada em depoimentos de pessoas que testemunharam a vida e a morte de Jesus. Além do evangelho, é autor do “Ato dos Apóstolos”, que complementa o evangelho.

Segundo a tradição, São Lucas era médico, além de pintor, músico e historiador, e teria estudado medicina em Antióquia. Possuindo maior cultura, seu evangelho utiliza uma linguagem mais aprimorada que a dos outros evangelistas, o que revela seu perfeito domínio do idioma grego (Ribeiro, 1970; Sterpellone, 1998, pp. 13-20; Frey, 1979, pp. 35-70).

São Lucas não era hebreu e sim gentio, como era chamado todo aquele que não professava a religião judaica. Não há dados precisos sobre sua vida. Segundo a tradição era natural de Antióquia, cidade situada em território hoje pertencente à Síria e que, na época, era um dos mais importantes centros da civilização helênica na Ásia Menor. Viveu no século I d.C., desconhecendo-se a data do seu nascimento, assim como de sua morte.

Há incerteza sobre as circunstâncias de sua morte; segundo alguns teria sido martirizado, vítima da perseguição dos romanos ao cristianismo; segundo outros, morreu de morte natural em idade avançada. Tampouco se sabe ao certo onde foi sepultado e onde repousam seus restos mortais. Na versão mais provável e aceita pela Igreja Católica, seus despojos encontram-se em Pádua, na Itália, onde há um jazigo com o seu nome, que é visitado pelos peregrinos (Ribeiro, 1970).

Não há provas documentais, porém há provas indiretas de sua condição de médico. A principal delas nos foi legada por São Paulo, na epístola aos colossenses, quando se refere a “Lucas, o amado médico” (4,14). Lucas foi grande amigo de São Paulo e, juntos, difundiram os ensinamentos de Jesus entre os gentios.

Outra prova indireta da sua condição de médico consiste na terminologia empregada por Lucas em seus escritos. Em certas passagens, utiliza palavras que indicam sua familiaridade com a linguagem médica de seu tempo. Este fato tem sido objeto de estudos críticos comparativos entre os textos evangélicos de Mateus, Marcos e Lucas, e é apontado como relevante na comprovação de que Lucas era realmente médico. Dentre estes estudos, gostaríamos de citar o de Dircks (1983, pp. 491-499), que contém um glossário das palavras de interesse médico encontradas no Novo Testamento.

A vida de são Lucas, como evangelista e como médico, foi tema de um romance histórico muito difundido, intitulado Médico de Homens e de Almas, de autoria da escritora Taylor Caldwell (2002). Embora se trate de uma obra de ficção, a mesma muito tem contribuído para a consagração da personalidade e da obra de São Lucas.

A escolha de São Lucas como patrono dos médicos nos países que professam o cristianismo é bem antiga. Eurico Branco Ribeiro, renomado professor de cirurgia e fundador do Sanatório São Lucas, em São Paulo, é autor de uma obra fundamental sobre o patrono dos médicos, em quatro volumes, totalizando 685 páginas, fruto de investigações pessoais e rica fonte de informações sobre São Lucas. Nesta obra, intitulada Médico, Pintor e Santo (1970), o autor refere que, já em 1463, a Universidade de Pádua iniciava o ano letivo em 18 de outubro, em homenagem a São Lucas, proclamado patrono do “colégio dos filósofos e dos médicos”.

A escolha de São Lucas como patrono dos médicos e do dia 18 de outubro como “dia dos médicos” é comum a muitos países, dentre os quais Portugal, França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Inglaterra, Argentina, Canadá e Estados Unidos, além do Brasil.

Referências Bibliográficas

  • Caldwell, T. Médico de Homens e de Almas, 31a ed. Rio de Janeiro, Record, 2002.
  • Dircks, J. H. “Scientific and Medical Terms and References in the Writings of St. Luke”. The American Journal of Dermatopathology, 5, pp. 491-499, 1983.
  • Frey, E. F. “Saints in Medical History”. Clio Medica, 14, pp. 35-70, 1979.
  • Ribeiro, E. B. Médico, Pintor e Santo. São Paulo, São Paulo Editora, 1970.
  • Sterpellone, L. Os Santos e a Medicina. São Paulo, Paulus, 1998.

 


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