A letra corrida do médico é notoriamente ruim de ser entendida! Segundo algumas fontes pesquisadas, escrever mal acaba sendo uma questão de sobrevivência. Em um turno de 8 horas, o médico acaba escrevendo sua assinatura entre 50 a 100 vezes, ou mais.
O problema aqui é o volume de documentações que o médico deve fazer para todos os pacientes que ele atende. Para reconhecimento legal, tudo aquilo que foi feito, descoberto e instruído deve estar documentado para possíveis questionamentos ou consultas futuras. Muitos médicos ainda pensam que jamais verão estes documentos novamente, que eles serão apenas armazenados em galpões e de lá jamais sairão. Muitos ainda imaginam que aquilo que escrevem não é para ser lido pelos seus pacientes, apenas por ele e seus pares. Ledo engano!
O prontuário médico pertence a ele e seu paciente. Em caso de dúvidas ou suspeitas legais, o paciente tem direito de requisitar todos os documentos já feitos para apresentar a pessoa que lhe interesse (médico perito ou até ao seu advogado). O prontuário então pode se tornar a maior arma do médico em uma defesa judicial ou sua pior armadilha.
É comum escrevermos siglas ou deixar de escrever aquilo que é óbvio para a gente. Algo que está tão intrínseco em nossa rotina pode facilmente passar por "nada digno de nota". Infelizmente muito daquilo que não "merece" ser documentado para nós, acaba sendo importante para o paciente, quando em posse de seu prontuário médico.
Para a justiça, só é válido aquilo que está documentado ou aquilo que possui testemunhas e/ou evidências. O discurso de que você falou para seu paciente não dirigir dias após a cirurgia para inclusão de próteses mamárias não vale de nada se não estiver registrado no prontuário que você orientou seu paciente quanto a cuidados pós-operatórios imediatos e que isso constava no termo de consentimento assinado pelo paciente. Em caso de dúvidas do paciente sobre a sua orientação, isso estará presente em seu prontuário, depondo a favor do profissional.
Os prontuários eletrônicos estão chegando para acabar com o problema da má escrita do médico. Alguns já estão utilizando de suas secretárias para a digitação dos prontuários, enquanto outros digitam os casos por sí sós.
Aqui encontramos outra nuance que pode trazer problemas futuros. São inúmeros os que utilizam do Ctrl+C e do Ctrl+V nesses prontuários eletrônicos. Muitas vezes essa atitude pode resultar em repetição dos achados da última consulta provocando uma falta de atualização sobre os novos dados médicos daquele paciente.
Acredito que o médico ainda continuará escrevendo mal, e será sempre caracterizado como quem possui péssima caligrafia. Os motivos para isso é que mudarão. Dessa vez a escrita não será ruim pelo volume que se escreve. Será ruim porque ele não irá mais escrever, pois pouco vai fazer sem a ajuda do teclado de um computador.
Texto publicado pela primeira vez em 2013.
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