Um estudo publicado em JAMA Network Open em 21 de janeiro de 2025, lança dúvidas sobre a eficácia dos métodos tradicionais de medição de cálcio ajustado por albumina na prática clínica. A pesquisa, realizada com uma ampla base populacional ao longo de sete anos, incluiu mais de 4,3 milhões de pessoas e analisou mais de 7 milhões de medições de cálcio total, muitas das quais foram pareadas com medições de albumina sérica.
O cálcio é um mineral essencial que desempenha papéis críticos na sinalização intracelular, mineralização óssea, coagulação e função neuromuscular. Tradicionalmente, metade do cálcio circulante está ligado a proteínas séricas como a albumina, enquanto a outra metade é ionizada e biologicamente ativa. Na prática clínica, o cálcio total, mais acessível e econômico, é frequentemente medido, mas a confiabilidade dessa medida pode ser comprometida por variações no pH do sangue e nas concentrações de proteínas séricas, que afetam a ligação do cálcio à proteína.
Historicamente, a fórmula de correção de cálcio proposta por Payne e colegas em 1973 tem sido usada para ajustar o cálcio total em função dos níveis de albumina, apesar de nunca ter sido validada contra o cálcio ionizado, a forma mais fisiologicamente relevante do mineral. Este novo estudo indica que as fórmulas ajustadas por albumina, de fato, correlacionam-se mal com o cálcio ionizado, especialmente em pacientes em condições críticas, aqueles com falência renal em diálise e populações geriátricas.
Os resultados mostram que o cálcio total, quando não ajustado, tende a ser um melhor substituto para o cálcio ionizado do que o cálcio ajustado por albumina, que frequentemente subestima verdadeiras situações de hipocalcemia, particularmente quando há baixa albumina sérica. Esta descoberta sugere que o custo adicional e a inconveniência de calcular o cálcio ajustado por albumina são difíceis de justificar, dado o risco elevado de classificação errada do status de cálcio, o que pode levar a decisões incorretas de tratamento.
🟦 A figura ilustra a correlação entre as medições de cálcio total e cálcio ajustado por albumina em comparação com os níveis de cálcio ionizado, destacando a eficácia de cada método de medição na prática clínica:
Fonte: Desgagnés N, King JA, Kline GA, Seiden-Long I, Leung AA., 2025
O estudo recomenda que o cálcio total não ajustado seja usado como a alternativa mais prática ao cálcio ionizado na maioria das configurações clínicas. Isso é especialmente relevante em um clima de saúde atual que enfatiza a redução de testes desnecessários. A pesquisa, realizada em múltiplos locais, incluindo ambientes urbanos e rurais, acadêmicos e comunitários, aumenta a generalizabilidade dos achados, superando as limitações de estudos anteriores realizados em uma única instituição terciária.
🟦 Na tabela é possível visualizar como o status de cálcio é classificado através das medições de cálcio total e cálcio ionizado, proporcionando uma análise comparativa da precisão de cada método na identificação de desordens de cálcio:
Fonte: Desgagnés N, King JA, Kline GA, Seiden-Long I, Leung AA., 2025
Este estudo constitui um importante chamado à reflexão para os profissionais de saúde sobre as práticas de medição de cálcio e a necessidade de reconsiderar o uso rotineiro de fórmulas de ajuste, reforçando a importância de uma avaliação mais direta e confiável do status de cálcio nos pacientes.
Referência:
Desgagnés N, King JA, Kline GA, Seiden-Long I, Leung AA. Use of Albumin-Adjusted Calcium Measurements in Clinical Practice. JAMA Netw Open. 2025;8(1):e2455251. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.55251