Volume cerebral nos transtornos do espectro alcoólico fetal

O Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) é uma condição complexa que engloba uma série de anomalias físicas, neurais, cognitivas e comportamentais resultantes da exposição pré-natal ao álcool (EPA).

Estudos anteriores, utilizando a ressonância magnética (RM), já haviam evidenciado reduções no volume intracraniano e alterações regionais em diversas áreas cerebrais em indivíduos com TEAF, em comparação com controles não expostos. Apesar de ser reconhecido como um distúrbio ao longo da vida, pouco se sabe sobre suas manifestações em adultos, com a maioria dos estudos se concentrando em crianças e adolescentes.

Um estudo publicado em JAMA Network Open em 17 de novembro de 2023, conduziu uma análise quantitativa de dados de RM de participantes com TEAF e controles não expostos, parte da coorte original da Universidade de Washington. Eles foram reavaliados aproximadamente 20 anos após o primeiro exame de RM. O estudo buscou testar três hipóteses: (1) persistência dos déficits volumétricos cerebrais e cerebelares, (2) mudanças de volume cerebrais relacionadas à idade dentro dos intervalos de referência e (3) declínios volumétricos relacionados à idade mais acentuados nos grupos com TEAF.

Comparação entre imagens de ressonância magnética (MRI) de participantes com Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e controles saudáveis. As imagens ilustram as diferenças notáveis no volume cerebral, evidenciadas nas duas séries de exames de RM (MRI 1 e MRI 2), refletindo os impactos do TEAF ao longo do tempo.

Fonte:  Pfefferbaum A, Sullivan EV, Pohl KM, et al., 2023.

De cima para baixo, vistas axiais, coronais e sagitais de ressonâncias magnéticas exemplares de participantes em suas sessões iniciais e de acompanhamento, aproximadamente 20 anos depois. Observe o aumento dos ventrículos laterais em ambos os participantes com SAF (Síndrome Alcoólica Fetal). (tradução da legenda)

Os resultados reafirmaram diferenças volumétricas persistentes entre os grupos, com volumes maiores no grupo de controle e menores nos grupos FAE (Efeitos Alcoólicos Fetais) e SAF (Síndrome Alcoólica Fetal). Observou-se que, com a idade, os volumes da matéria cinzenta cortical, mas não cerebelar, diminuíram, enquanto os volumes da matéria branca cortical, mas não cerebelar, aumentaram. Não houve evidências de envelhecimento prematuro nos grupos com TEAF.

Este estudo enfatiza a natureza duradoura das alterações cerebrais induzidas pela exposição pré-natal ao álcool. Surpreendentemente, as diferenças macroestruturais associadas ao TEAF persistiram por mais de 40 anos. Os participantes que retornaram para o segundo exame de RM apresentavam, em geral, maior funcionalidade e apoio, sugerindo a necessidade de estudos futuros que incluam um espectro mais amplo de indivíduos afetados.

Os achados deste estudo longitudinal sobre o TEAF proporcionam insights cruciais para a compreensão da condição em idades mais avançadas. Embora as alterações estruturais cerebrais induzidas pelo álcool no período prenatal apresentem consequências comportamentais clinicamente observáveis, os resultados não sugerem que o TEAF seja um distúrbio progressivo até a meia-idade.

Assim, reforça-se a importância de esforços contínuos de habilitação para esta população. Este estudo destaca a necessidade de avaliações longitudinais adicionais, especialmente à medida que essa coorte avança para idades mais avançadas, onde podem se manifestar sinais mais claros de envelhecimento acelerado.

Para mais detalhes sobre o Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF), disponibilizamos aqui o link para o  folheto informativo da OPAS/OMS, o qual detalha sobre as consequências ao longo da vida, importância do reconhecimento, diagnóstico e intervenção, além de estratégias de conscientização e recomendações para o público-alvo.

A imagem apresentada neste conteúdo foi extraída da pesquisa original. Para uma consulta detalhada ao estudo completo, disponibilizamos aqui o link de acesso.

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Referência:

• Pfefferbaum A, Sullivan EV, Pohl KM, et al. Brain Volume in Fetal Alcohol Spectrum Disorders Over a 20-Year Span. JAMA Netw Open. 2023;6(11):e2343618. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.43618

• Organização Pan-Americana da Saúde. (2022). Os transtornos do espectro alcoólico fetal (TEAF) (OPAS/NMH/MH/22-0020).