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Qual a relação entre a COVID-19 e o AVC?

Qual a relação entre a COVID-19 e o AVC?
Fernando Antônio Ramos Schramm Neto
mai. 5 - 5 min de leitura
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Por ser uma doença nova e ainda não ter muitos estudos divulgados a seu respeito, a COVID-19 permanece envolta de mistérios e investigações acerca de seus efeitos colaterais sistêmicos. Um deles é exatamente a sua possível relação com o Acidente Vascular Cerebral (AVC), que está sendo extremamente disseminada pela mídia e estudada pelos novos trabalhos acadêmicos que são divulgados.

AVC configura-se como sendo uma doença de causa multifatorial que resulta na falta de irrigação sanguínea necessária para uma determinada região de tecido neural. A depender de como se manifesta, pode ser dividido em AVC isquêmico ou hemorrágico.

Enquanto que no AVC isquêmico há a presença de algum tipo de obstrução que impede o fluxo sanguíneo de suprir as necessidades metabólicas de uma área específica do tecido neural, no AVC hemorrágico ocorre extravasamento de sangue para o interstício, resultando no impedimento de tal irrigação.

Mas como isso se relaciona com a pandemia gerada pelo SARS-CoV-2? Pelo fato de os principais sintomas gerados por tal mazela viral, pode ser difícil entender inicialmente. Porém, deve-se saber que essa doença também gera inúmeros efeitos sistêmicos, não se limitando apenas à formas graves de pneumonia ou a Síndrome Respiratória Aguda Grave.

Alguns estudos divulgados na Europa já indicaram a presença de um possível tropismo do SARS-CoV-2 pelo sistema nervoso central. Isso foi confirmado recentemente a partir de um estudo brasileiro da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) divulgado no último mês de abril, que identificou as capacidades infecciosa e destrutiva do vírus em neurônios.

Mas a relação direta entre o SARS-CoV-2 e os casos de AVC (que inclusive vêm sendo descritos como sendo o sintoma inicial por muitos pacientes infectados pela COVID-19) podem ser enumerados em alguns pontos-base:

1. Um indivíduo infectado, ao tossir ou espirrar, emite partículas que se encontram em suspensão no ambiente (aerossol);

2. Outra pessoa não infectada, ao inalar tais partículas que contêm milhares de vírus do SARS-CoV-2, inicialmente se encontra assintomática (período de incubação viral). Posteriormente, o vírus se encaminha para o sistema respiratório, onde infecta células a partir da ligação com o receptor de Enzima Conversora de Angiotensina 2 (ECA-2);

3. Ao se disseminar na corrente sanguínea, o vírus desperta uma série de reações inflamatórias nos vasos pelos quais passa (isso, segundo estudos indicam, porque as células endoteliais dos vasos podem expressar receptores de ligação com o vírus), e como possui tropismo pelo sistema nervoso central (de acordo com os estudos divulgados na Europa), inicia um processo de inflamação em alguns vasos cerebrais;

4. A inflamação cerebral induz a agregação de vários glóbulos brancos na tentativa de conter o vírus. Da mesma forma, plaquetas e moléculas de fibrina (agente formador do coágulo) se aglomeram no local, caracterizando o quadro de vasculite;

5. Por fim, a presença de tais células induz à formação de um trombo, que pode se deslocar (e, ao atingir capilares menores, pode gerar tromboembolismo) ou permanecer no local da vasculite, gerando uma interrupção do fluxo sanguíneo que nutria o tecido nervoso. Como consequência, tem-se a formação de um AVC isquêmico.

Essa relação entre o SARS-CoV-2 e o AVC pode ser confirmada pois alguns adolescentes, sem fatores de risco e sem história prévia de AVC, estão apresentando tais sintomas ao contraírem infecção por COVID-19. Alguns nem chegaram a manifestar os sintomas respiratórios antes.

O principal problema, que está sendo reportado em maior frequência no Brasil, é que pacientes que já possuem história prévia de AVC, ao perceberem o surgimento dos sintomas de ocorrência, estão deixando de se encaminhar para os hospitais para serem atendidos, devido ao medo de contraírem a doença viral e complicarem o quadro clínico.

No entanto, como o tratamento para tal condição deve ser feito logo após a observação do surgimento dos sintomas, os pacientes já podem apresentar piora permanente do quadro por perda de tecido nervoso, mesmo sem terem contraído a COVID-19.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. A Gazeta. Médico explica a relação entre os casos de AVC e coronavírus. URL: https://www.agazeta.com.br/es/cotidiano/medico-explica-a-relacao-entre-casos-de-avc-e-coronavirus-0420. Arquivo capturado em 1 de maio de 2020.

2. NETO, Rodrigo Antonio Brandão. Acidente Isquêmico Transitório.

3. PERLINI, Nara Marilene Oliveira Girardon; FARO, Ana Cristina Mancussi. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 39, n. 2, p. 154-163, 2005.


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