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Quando a medicina adoece o médico: Burnout!

Quando a medicina adoece o médico: Burnout!
Fernando Carbonieri
dez. 9 - 7 min de leitura
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A pedido da Academia Médica, a psicóloga Marina Forville de Carvalho e o ortopedista especializado em medicina do esporte, Daniel Augusto de Carvalho, fazem considerações sobre a síndrome de burnout e a prevenção dela. 

A síndrome de burnout (do inglês to burn out, queimar por completo), ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico que foi descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano.

Esta síndrome acomete, principalmente, profissionais assistenciais, notadamente profissionais de saúde, professores e policiais militares. A diferença fundamental entre o stress ocupacional e o burnout é que neste é dada mais importância à relação interpessoal entre o profissional e o usuário do serviço, levando a um total prejuízo de seu trabalho.

Dessa forma, profissionais de quaisquer atividades laborais podem sofrer de estresse ocupacional, ao passo que somente os profissionais voltados primariamente ao cuidado do outro estão propensos ao desenvolvimento do burnout.

Parte da fadiga do profissional de saúde pode ser atribuída à árdua natureza de seu trabalho e à necessidade de negar constantemente as emoções para adquirir a objetividade necessária. Com isso, a repressão das emoções é um dos principais provocadores do esgotamento psicológico (2).

O burnout vem sendo observado no EUA há muito tempo e aqui no Brasil não poderia ser diferente.

As enormes cargas horárias de trabalho que médicos e outros profissionais de saúde estão sujeitos (invariavelmente, nenhum médico trabalha menos que 60 horas semanais), atrelados a condições precárias de trabalho e a um aumento substancial da demanda, produz um cenário perfeito para o esgotamento mental.

Alguns estudos mostram as conseqüências dessa atuação profissional, que é a intersecção das manifestações de adoecimentos físicos e psico-emocionais (1,2). Martins (3), demonstra como o índice de suicídio é elevado entre os profissionais de saúde: 34,7% de todas as mortes prematuras.

Os dados disponíveis sobre a saúde do médico têm indicado que certos hábitos nocivos à saúde, como tabagismo e sedentarismo, estão em declínio. No entanto, o mesmo não se observa nos cuidados com a saúde mental desses profissionais, visto que apresentam uma alta prevalência de suicídios, depressão, uso de substâncias psicoativas, estresse, burnout e disfunções profissionais (5).

Fatores como desatenção, negligência, cinismo, falta de empatia e hostilidade são característicos deste quadro, evidenciando a dificuldade do profissional em desempenhar de forma satisfatória suas responsabilidades (2).

Maslach e Jackson (5) descrevem burnout como um conjunto de sinais e sintomas composto de aspectos multidimensionais em resposta ao estresse laboral crônico, envolvendo três fatores principais: 

1. Exaustão emocional: refere-se à falta de energia e recursos (emocionais e físicos) para lidar com as diferentes situações de trabalho.

2. Despersonalização: ocorre uma verdadeira transformação negativa da relação do profissional com o usuário de seu serviço (paciente, cliente, aluno, etc.). Sentimentos como indiferença, ironia e cinismo são desenvolvidos pelo profissional em relação ao outro, culminando em um endurecimento afetivo.

3. Redução da realização pessoal e profissional: insatisfação por parte do profissional, concernente ao desempenho de suas atividades, este não mais acreditando em sua capacidade de trabalho, levando-o a sentimentos de baixa auto-estima, desmotivação e inadequação, dentre outros.

Outros sintomas que podem ser encontrados são atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais são outras manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome (3).

Tratamentos

Pode ser realizado inicialmente através de psicoterapia, como a terapia cognitivo comportamental (TCC), e em sessões de terapia em grupo ou familiar, onde o compartilhamento de vivências similares e a troca de experiências, auxiliam o indivíduo no entendimento de sua patologia.

Através da fala, o paciente traz à consciência aspectos de sua vida profissional que lhe afetam internamente.  Com isso, o terapeuta conduz o tratamento utilizando-se de técnicas e exercícios específicos para a superação do quadro. Sessões de relaxamento também podem ser realizadas em um processo de psicoterapia.

Importante lembrar que em determinadas situações é necessária a utilização de farmacos (antidepressivos, ansiolíticos, etc.). Risco de suicídio, alcoolismo e dependência de outras drogas, que podem ocorrer na última fase da doença, devem ser acompanhados por um psiquiatra.

O efeito da atividade física

Durante a realização do exercício, ocorre liberação de beta-endorfina e  dopamina, propiciando um efeito tranquilizante e analgésico no praticante regular. Além do efeito relaxante pós-esforço, o praticante de atividade física consegue manter um estado de equilíbrio psicossocial, quando se relaciona com outros indivíduos e distrai a sensação dos pensamentos durante o exercício.

Quanto ao tipo de atividade física, o efeito do exercício aeróbico sobre o anaeróbico tem-se mostrado mais seguro e eficaz. Um maior controle sobre a freqüência cardíaca, pressão arterial e freqüência respiratória durante o condicionamento aeróbico evitam possíveis exacerbações de sintomas relacionados com a ansiedade e a depressão (7,8).

 

 

Não use a falta de tempo como desculpa para não praticar atividades físicas. Coloque na balança o quanto as condições de trabalho estão interferindo em sua qualidade de vida e prejudicando sua saúde física e mental.

Mude seu estilo de vida se for necessário, pois essa pode ser a melhor forma de prevenir ou tratar a síndrome.

 

Marina Forville de Carvalho

Psicologia Clínica

 

Dr. Daniel Augusto de Carvalho 

Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte, Membro Titular de la Sociedad Latinoamericana Artroscopia Rodilla Traumatologia Deportiva

 

Website: www.ortopediadoesporte.com.br

REFERÊNCIAS:

1. BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. (Ed.). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar
do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002
2. Remen, N. (1993). O paciente como ser humano. São Paulo: Summus
3. Martins, A. L. N. (1990). Morbidade psicológica e psiquiátrica na população médica. Bol. de Psiq., 2 (22-23), 9-15. São Paulo.1990.
4. Blachly, P. H.; Disher, W. & Roduner, G. (1968). Suicide by physicians. Bulletin of Suicidology. 1-18
5. BORGES, L. O.; ARGOLO, J. C. T.; PEREIRA, A. L. S.; MACHADO E. A. P.; SILVA, W. S. A síndrome de burnout e os valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitários. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 15, n. 1, 2002.
Disponível em: SciELO (Scientific Electronic Library Online) <http://www.scielo.br>.
6. Maslach, C., & Jackson, S. E. (1981). The measurement of experienced burnout. Journal of Ocuppational Behavior, 2, 99-113.
7. BROGAN D.R. Rehabilitation services needs: Physicians’s perceptiions and referrals. Arch Phys Med Rehabil. 1981; 62 : 215.
8. CARDOSO, J.R. Atividades físicas para a terceira idade.A terceira idade. 1992; 5 (4) : 9-21.

 


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