Recentemente, o estado do Amapá, Brasil, foi cenário de um grave incidente envolvendo infecções fúngicas em um mutirão de cirurgias de catarata, parte do Programa Mais Visão. Este evento acarretou uma infecção por Fusarium em 104 dos 141 pacientes atendidos, resultando em casos de endoftalmite, uma condição rara e severa que pode levar à perda da visão.
Em resposta, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa emitiram um alerta enfatizando a necessidade de adesão estrita às normas sanitárias e aos padrões de qualidade em serviços de saúde. Este alerta destaca o risco inerente à realização de procedimentos em grande escala, como os mutirões, que têm sido uma estratégia comum para mitigar a demanda reprimida por serviços oftalmológicos.
As entidades médicas recomendam que tais atendimentos sejam realizados em instalações que já possuam experiência comprovada neste tipo de serviço, ao invés de unidades móveis ou estabelecimentos adaptados que não são originariamente médico-hospitalares. Adicionalmente, é aconselhado que serviços de outras regiões sejam acionados somente após a confirmação de que as unidades locais não têm capacidade ou interesse em prestar o atendimento sob as mesmas condições.
O episódio no Amapá também suscita uma revisão das práticas de vigilância sanitária em procedimentos oftalmológicos invasivos. É imprescindível que os médicos responsáveis pelas cirurgias sejam especialistas qualificados e registrados em oftalmologia, e que a vigilância sanitária acompanhe rigorosamente as atividades para garantir a conformidade com todas as exigências técnicas e operacionais.
Além disso, é essencial que os pacientes recebam acompanhamento pós-operatório por até 30 dias e que qualquer evento adverso seja imediatamente comunicado à vigilância sanitária. Em situações de infecção, recomenda-se a interrupção dos mutirões até que as causas sejam investigadas e medidas corretivas implementadas.
Para a segurança dos pacientes e a manutenção da confiança nos serviços de saúde oftalmológicos, é relevante que incidentes adversos sejam reportados compulsoriamente nos seis meses após os procedimentos. A adoção destas medidas visa prevenir a repetição de casos como o ocorrido no Amapá e em outros estados.
O Programa Mais Visão tem sido uma iniciativa significativa no Amapá desde 2020, com mais de 100 mil atendimentos e um foco considerável em cirurgias de catarata. No entanto, diante do recente acontecimento, a continuidade do programa foi suspensa para garantir a segurança dos pacientes e a qualidade dos serviços prestados.
Para os profissionais da área médica, este caso ressalta a importância do cumprimento das normas sanitárias e da vigilância contínua, elementos cruciais para o sucesso de intervenções de grande escala como mutirões de saúde. É um lembrete solene de que, mesmo diante da pressão por resultados quantitativos, a qualidade e a segurança do atendimento ao paciente nunca devem ser comprometidas.
Referência:
Laboissière, P. (2023, November 6). Entidades médicas cobram regras sanitárias em mutirões de cirurgias. Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-11/entidades-medicas-cobram-regras-sanitarias-em-mutiroes-de-cirurgias
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