Amig@ leitor@, parafraseando Shakespeare, reinfecta ou não? Eis a questão sobre o Novo Coronavírus! Trago aqui um relato de caso que será nosso ajudante para analisar essa possibilidade.
O artigo foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Decidi pegar um caso brasileiro para adequar melhor à nossa realidade e obter dados mais precisos em relação ao nosso país.
No relato, a paciente tem 24 anos e atua como técnica de enfermagem. Possui sobrepeso, apresentou cefaleias esporádicas, mas nega outras doenças crônicas. Não possui vício algum e suas vacinas estão em dia (fez o dever de casa!).
Notamos no artigo que a paciente ajudou um colega de profissão que apresentou sintomas da doença e, dois dias depois, ela apresentou sintomas da COVID-19 como cefaleia mais intensa que a comum, sensação de febre, dor na garganta e congestão nasal.
Em exames posteriores se confirmou a infecção e foi medicada para controlar os sintomas com naproxeno (anti-inflamatório não esteroidal) e dipirona (analgésico, antipirético). Resumo da ópera: seus sintomas foram embora com dez dias e ficou mais quatro isolada, ou seja, 14 dias ao todo. Fim da doença? Cena para os próximos parágrafos...
Após o acontecido, a paciente voltou a trabalhar e ficou 38 dias sem sintomas. Pouco tempo depois, familiares dela apresentaram sintomas da gripe e foram diagnosticados com a doença. Seis dias depois do diagnóstico dos familiares, o que ocorreu? A paciente acorda com mal-estar, fraqueza, dor de garganta, anosmia (perda de olfato), disgeusia (dificuldade sensorial no paladar), entre outros sintomas. A paciente fez os exames e adivinha: COVID-19 resolveu reaparecer, ou seja, teste positivo novamente.
Felizmente a paciente se recuperou da maioria sintomas em cerca de 12 dias (alguns deles se estenderam por mais tempo) e deu tudo certo no final.
Esse é um clássico caso de que sim, é possível a reinfecção pela SARS-CoV-2, ou COVID-19. Na literatura já se encontram boas referências (1,2,3) desse acontecimento.
Mas aí você pergunta: quais as razões para isso ocorrer? O artigo cita possíveis três.
A primeira hipótese é de uma infecção persistente com retorno dos sintomas após algum tempo.
A segunda hipótese é que a segunda infecção pode ter sido gerada por outro vírus respiratório e o caso foi dado como falso positivo, possível, mas menos provável.
E a terceira hipótese é que seja um verdadeiro caso de reinfecção por conta das mutações que o Novo Coronavírus pode sofrer e, portanto, tem potencial de infectar novamente. Como citado antes, deixo algumas referências (1,2,3) com casos desse tipo.
Conclusão
Estamos diante de um caso de saúde pública (perdoe o clichê). Apesar da enorme gravidade da doença, fazendo a nossa parte já é um pontapé inicial super importante para iniciarmos um controle.
Gosto de reafirmar sempre que, quando você toma as medidas de precaução, está cuidando de si e todos à sua volta, portanto, façamos todos a nossa parte.
Use álcool gel, máscara (lembre de manusear da maneira correta), mantenha o distanciamento em relação às pessoas e às fake news. À medida que aguardamos uma vacina eficaz, temos que seguir essas regras à risca. Fique bem, fique em paz e fique em casa lendo a Academia Médica (saia apenas para o essencial).
Até breve!
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BIBLIOGRAFIA
Artigo do caso clínico:
Bonifácio LP, Pereira APS, Araújo DA, et al. Are SARS-CoV-2 reinfection and Covid-19 recurrence possible? a case report from Brazil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2020;53: e20200619. http://dx.doi.org/10.1590/0037-8682-0619-2020.
1. Xiao AT, Tong YX, Gao C, Zhu L, Zhang YJ, Zhang S. Dynamic profile
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a descriptive study. J Clin Virol. 2020;(127):104346. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1386653220300883
2. Lan L, Xu D, Ye G, Xia C, Wang S, Li Y, et al. Positive RT-PCR test results in
patients recovered from COVID-19. JAMA. 2020;323(15):1502–3. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2762452
3. Wei B, Hang X, Xie Y, Zhang Y, Wang J, Cao X, et al. Long-term positive severe
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Rev Soc Bras Med Trop. 2020;(53):e20200372. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v53/1678-9849-rsbmt-53-e20200372.pdf