Manter uma boa saúde vascular a partir da meia-idade pode reduzir significativamente o risco de demência antes dos 80 anos. É o que nos mostra uma pesquisa pesquisa, conduzida por cientistas da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.
O estudo acompanhou mais de 12 mil adultos por mais de três décadas e oferece evidências sobre o papel dos fatores de risco modificáveis, como hipertensão, diabetes e tabagismo na prevenção da demência.
Intitulado “Contribution of Modifiable Midlife and Late-Life Vascular Risk Factors to Incident Dementia”, o estudo analisou dados de quatro comunidades nos Estados Unidos ao longo de 33 anos. Os participantes, autodeclarados negros ou brancos, tinham entre 45 e 74 anos no momento da avaliação inicial dos fatores de risco. A incidência de demência foi monitorada por meio de avaliações clínicas padronizadas, entrevistas com familiares e análise de prontuários médicos.
Principais resultados
A análise revelou que quanto mais cedo na vida os fatores de risco vasculares aparecem, maior é sua contribuição para o desenvolvimento de demência antes dos 80 anos:
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21,8% dos casos de demência até os 80 anos foram atribuídos a fatores de risco presentes entre 45 e 54 anos;
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Esse número sobe para 26,4% entre os que apresentaram os fatores entre 55 e 64 anos;
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E chega a 44,0% entre aqueles que tinham hipertensão, diabetes ou eram fumantes entre 65 e 74 anos.
Após os 80 anos, a influência desses fatores cai significativamente: apenas entre 2% e 8% dos casos foram atribuídos a riscos vasculares anteriores, sugerindo que a janela de prevenção mais eficaz é antes dessa faixa etária.
Variações por subgrupo
A pesquisa também identificou diferenças significativas nos subgrupos:
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Pessoas sem o gene APOE ε4, o principal fator genético de risco para Alzheimer, apresentaram uma fração atribuível de até 61,4%, reforçando o papel dos fatores ambientais e modificáveis para esses indivíduos.
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Entre participantes negros, até 52,9% dos casos de demência poderiam estar relacionados a fatores vasculares.
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Mulheres também apresentaram risco elevado, com até 51,3% dos casos atribuíveis a essas condições.
Um novo olhar sobre a prevenção
Os resultados reforçam que a demência, especialmente antes dos 80 anos, pode ser significativamente impactada por intervenções precoces sobre fatores de risco vasculares comuns. A hipertensão e o diabetes, além do tabagismo, estão frequentemente associados à doença dos pequenos vasos cerebrais, que afeta a irrigação do cérebro e pode causar danos irreversíveis às células nervosas.
A dificuldade diagnóstica também é destacada pelos autores: os sintomas iniciais da demência vascular, como lapsos de memória ou confusão mental, muitas vezes se confundem com o envelhecimento normal, mascarando o início da condição.
Implicações para a prática médica
A conclusão é clara: cuidar da saúde vascular é uma estratégia para reduzir eventos cardiovasculares, além de uma poderosa ferramenta para prevenir a deterioração cognitiva. Para médicos de atenção primária, cardiologistas, endocrinologistas e profissionais da saúde pública, isso significa que o controle rigoroso da pressão arterial, o manejo do diabetes e a cessação do tabagismo devem ser reforçados como medidas de prevenção de demência, além de medidas preventivas cardiovasculares.
“Os resultados sugerem que manter a saúde vascular ideal até a vida tardia pode reduzir substancialmente o risco de demência antes dos 80 anos”, concluem os autores do estudo.
Referência:
Jackson, J. (2025, June 10). Long-term study ties midlife vascular health to later dementia risk. Medical Xpress. https://medicalxpress.com/news/2025-06-term-midlife-vascular-health-dementia.html